sábado, 8 de agosto de 2009

21 - RETALHOS DE MINHA VIDA

Dário Teixeira Cotrim

Acabei de ler um belíssimo livro de memórias. Trata-se de “Retalhos de minha vida”, do confrade-amigo Afonso Prates Borba. Na verdade é um livro que todos nós gostaríamos de tê-lo escrito um dia, haja vista as coincidências de uma época, onde situações idênticas aconteceram, na década de sessenta, com todos os moços na difícil fase da puberdade. As lembranças, ainda que vagamente, remontam os momentos de jogar finca e bolinhas de gude, de rodar pião, de soltar pipas (papagaio) e de brincar de cantiga de roda no embalo gostoso da ciranda-cirandinha. Ah, quem não se lembra dos belos momentos como estes e que não se rende às lágrimas? Afonso Prates Borba foi muito feliz na sua descrição de menino peralta, caçador de passarinhos e de banhar-se em poços de águas cristalinas no rio Vieira de outrora. Verdade seja – e isso o confesso aos distintos leitores do Afonso – verdade seja, direi, que muitas vezes confundir-me com os relatos aqui descritos como se eles fossem somente meus. Vocês, caríssimos leitores, ao término da leitura hão de concordar comigo em gênero e grau.

O livro “Retalhos de minha vida” divide-se em partes distintas. Há nisso o que quer que seja singularmente necessário e solene: por isso a infância, a adolescência e a fase adulta em que o autor retrata com detalhes a labuta da conquista até a sua formação familiar, são momentos agradáveis, e maus momentos também, de há muito que se faziam sentir a necessidade de escrevê-los num álbum de memórias. O mundo da descoberta, “pelo menos no conceito de um jovem que se fazia adulto”, se afirma numa única oportunidade existente na sua escrita: perdi a minha “inocência”. Eu cá penso assim, quantas situações idênticas nós passamos em nossas vidas à procura das “marias”? Por outro lado, os entretenimentos se avolumavam somente por influência das sessões de cinemas. A imitação do Zorro e do Cavalheiro-Negro cada um dos meninos trazia como animação de vida. Aliás, a vida só valeria a pena se estivesse embutido nela os percalços da vadiagem em tempos de meninice, com a confirmação do ubi sunt, isto é, a busca dos tempos “idos e vividos”.

Uma autobiografia pode derivar-se serenamente por esteiras de rosas ou, talvez, por precipitar-se pela garganta das voragens enturvando as águas cristalinas do sonhado porvir. Aqui é o primeiro caso. Nada é descrito com ódio no coração, até mesmo os momentos mais difíceis em que passou o biografado. Pois, tem muito por onde se quer bem, muito onde o amor é o verdadeiro “lenitivo nos momentos de dor” e, também, o construtor de uma vida a dois. Entretanto, há momentos em que apresenta revolta contra hábitos e conceitos forrados de hipocrisia e disse que “sente, hoje, uma tristeza e uma vergonha imensa por [Brasília] abrigar no seu seio, tão carinhosamente moldado, uma camarilha enorme de políticos sem moral, sem sentimentos de amor à pátria e corruptos sob todas as formas”. Outro não é, aliás, o nosso pensamento sobre os políticos brasileiros.

“Retalhos de minha vida” não é uma obra best-seller. Mas, certamente que será um livro de qualidade literária inquestionável, haja vista o conhecimento que tem o autor da língua pátria. No descrever indefinidamente os mesmos motivos de graça e beleza, estava o autor no caminho da sabedoria. Nem um rápido clarão de inveja poderá, sequer, macular qualquer página deste livro repleto de amor e de bondade. A poesia é a arte da escrita que salta do coração. Nada mais propício e acalentador para Afonso Prates Borba do que o encerramento do seu livro ser á moda dos poetas românticos. Por isso, Bodas de Ouro atende perfeitamente as inspirações recebidas das esferas de Deus. Daí o seu movimento de plena alegria e o ardente entusiasmo em publicar essas reminiscências para a posteridade. Meu prezado confrade das letras, Afonso Prates Borba, assim como todos nós, você era feliz e não sabia.

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