De há muito se fazia sentir a necessidade de editar mais uma obra literária de Elzita Ladeia Teixeira – a mais completa escritora de Guanambi e região – para satisfazer os desejos de seus exigentes leitores, os que verdadeiramente apreciam o seu estilo e se emocionam com as suas comoventes narrativas. Como se vê, coube-me a glória de ser o primeiro, o que sai a lume para depois penetrar no âmago de seus novos escritos e humildemente elaborar a apresentação desta sua recente produção: Jurema, reminiscências de um povo. Garanto, pois, que os que lêem os livros de Elzita não encontrarão jamais no elemento de sua prosa literária uma só decepção.
Disse a ilustre psicanalista clínica, a doutora Solange Meinkig, agradecida em prefaciar Oportunidades, que os livros de Elzita são “tão iluminados quanto o seu sorriso que resplandece a grandeza de sua alma”. Outrossim, asseverou Luiz Bassuma que “esta é uma incursão de Elzita, pois não se trata de um simples romance que distrai os leitores com uma narrativa interessante. Ela vai muito mais fundo, pois aborda questões de ordem moral, toca de maneira direta na lei de causa e efeito, elabora avaliações acerca da reencarnação e tece comentários sobre as conseqüências no mundo espiritual, de atos praticados na carne”. E o livro, Jurema, reminiscências de um povo, pelo conteúdo da mais alta compreensão humana, o que ressuma de todas as suas páginas ainda mais aproxima a sua autora de todos os que já admiramos as suas obras.
Elzita é, antes de tudo, uma espirituosa. Uma escritora de boa fé. Nunca tentou vender-nos água de chilra por água de cheiro. Fala-nos sempre de maneira clara, com despego e respeito sobre os genuínos valores sociais. Em toda a verdade, ela vive o seu gênero romântico, o que é próprio da exaltação amorosa, e o enobrece. Revela-nos conhecimentos históricos, o que se constituirá de novas facetas da originalidade; do talento e da arte de escrever, como uma das melhores escritoras do estilo e do pensamento relativo às crenças religiosas e ao misticismo profundo. Seus temas, sabidamente conhecidos, são sempre doutrinários rígidos dos princípios familiares. Nada mais simples. Nada mais sério. Pois a simplicidade e a seriedade são apenas duas técnicas utilizadas para a perfeita concatenação dos fatos, haja vista que, na sua maneira de romantizar, como é apresentado neste livro, tem linguagem castiça e nobre, tornando-a de leitura muito agradável. Nisso a autora faz prodígio.
A escrita nédia de Elzita, desde a sua primorosa publicação de A Mansão do Resgate, é considerada um axioma fundamental do amor espiritual. Seja como for, um fato há que ninguém ousaria contestar, que resulta de seguinte observação: é que a escrita fluente da autora fala-nos de uma incursão no passado; portanto, volvamos às páginas da história, donde promanam os nossos ancestrais, e remontemos ao século XVI, onde encontraremos, por expiação, espíritos encarnados no seio de uma nobre família.
Na verdade, Jurema, reminiscências de um povo é a saga da família do náufrago Diogo Álvares Correia, o Caramuru, que é contada aqui sob pseudônimos, fazendo com que a história antiga venha transcender os limites do tempo, para depois ilustrar-se num conteúdo da história universal. É certo que não é fácil encontrar na história moderna das nações fato que mais se enquadre na grandiosa moldura trágica do que a vida pregressa da menina Jamyne, uma das mais amadas do seu tempo, a mais bela talvez, e sem motivo algum a mais infeliz.
Cumpre-nos agora desenrodilhar o fenômeno do misticismo e desalinhavar do seu todo algumas das partes que o constituem. Vejamos: a Fonte Nova do Tororó e a Baixa do Sapateiro ilustram, muito bem, os mistérios da Cidade do Salvador. A cidade é rica em segredos e meias-sombras, revela-se à nossa sensibilidade pelas suas belezas mais íntimas e pela sua independência de valores de ordem sentimental e moral. O livro de Elzita dá-nos uma visão geral da velha, e saudosa, Bahia de todos os Santos aquela das fazendas do gado vacum e dos movimentados engenhos de cana-de-açúcar, rodeados pelos seus imensos canaviais, o que é o segredo do “berço da eterna poesia”, como a batizou o mestre Rui Barbosa.
Portanto, este livro Jurema, reminiscências de um povo é mais um repositório de suas valiosas pesquisas no campo estritamente espiritual. Foi escrito para estabelecer, entre o homem comum e o homem virtual, um paralelo, isento de preconceitos, sobre o plano de Deus. A propósito, disse Santo Agostinho: “Por bem largo tempo, os homens se têm estraçalhado e anatematizado mutuamente em nome de um Deus de paz e misericórdia, ofendendo-o com semelhante sacrilégio. O espiritismo é o laço que um dia os unirá, porque lhes mostrará onde está a verdade, onde o erro”. Há entre os homens comuns a figura da vaidade incomum, que de certo modo dará nascimento a opiniões dissidentes. Assim aconteceu com dona Valderez, uma persona non grata e de natureza filáuciana, no meio de uma comunidade ainda recém-criada.
Prossigamos para a leitura do livro e arrodelemo-nos do espírito de observação, que vamos encontrar, agora, revelações surpreendentes.
Decididamente, façamos aqui uma digressão, para dizer que a sociedade guanambiense ainda não avaliou, com a devida justiça, a importância dos escritos de Elzita Ladeia Teixeira para o processo da formação cultural e educacional de nossas futuras gerações. Mesmo assim, aqui está mais um livro da autora, agora mais bem cuidado e muito mais original que os anteriores, credencial valiosa para lograr a simpatia dos seus leitores a que faz jus.
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