domingo, 2 de agosto de 2009

15 - A MORTE DE UM TITÃ

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

“Comecei, honrando a memória de meu pai, e espero acabar, deixando honrada a minha” - Rui Barbosa.

Entre os maiores vultos da geografia, da genealogia e da historiografia do município de Guanambi e da região sobressai, como um dos mais importantes, senão o mais importante de todos eles, o nome do meu saudoso pai Ezequias Manoel Cotrim, que era carinhosamente conhecido pelo apelido de Seu Quias. Os estudos históricos, geográficos e genealógicos sempre foram a sua constante. Incansável, ele buscava insistentemente os livros (O Almanaque Mundial que era o seu livro de cabeceira) e os mapas (o Atlas Mundial), tudo isso para sanar as suas dúvidas e aprimorar os seus conhecimentos. Foi leitor assíduo das revistas: “O Cruzeiro” e “Fatos & Fotos” e, depois, da Revista “Manchete”. Sempre se dizia fã incondicional de Carlos Lacerda, Getúlio Vargas e do general Humberto de Alencar Castelo Branco, pois nunca duvidou das boas intenções do governo militar da Revolução de 1964.

Seu Quias nasceu no dia 27 de novembro de 1921, na antiga Vila de Nossa Senhora do Rosário do Gentio, município de Guanambi/Bahia. Ele era filho do fazendeiro Manoel Antônio Cotrim e de dona Ana Maria Meira Couto. Foi lavrador, comerciante e, sobretudo, um homem de caráter político que combatia bravamente os desmantelos da administração pública em todos os seus segmentos. Aliás, como homem público ele recebia dos seus concidadãos o respeito e a admiração pelo que sempre representou para a cidade de Guanambi e, principalmente, para a pacata Vila Nova de Ceraíma. Eleito pelo povo, ele exerceu o cargo de vereador durante uma década por três mandatos consecutivos - 1967/1971, 1971/1973 e 1973/1977. Registra-se com louvor nos anais da história política do município a sua participação como presidente da Câmara Municipal de Vereadores (em exercício no ano de 1973), quando ele ocupou interinamente o cargo de Prefeito Municipal de Guanambi. Certamente pela sua modéstia poucos avaliaram o grande homem que ele era. Os seus filhos cultuam-lhe o nome e lhe têm sabido honrar as qualidades de inteligência e de caráter que ele possuía.

Por outro lado, Seu Quias era um contumaz conhecedor dos nossos costumes e das nossas tradições. Um contador de causos por excelência! Em vista disso ele nos deixou um arquivo fotográfico dos mais completos e de importância inquestionável sobre a memória política e histórica do seu rincão querido, o Distrito de Paz de Nossa Senhora do Rosário do Gentio (antiga Vila de Ceraíma). São centenas de fotografias, alguns documentos e muitos livros e, ainda, diversas peças do antiquário daquele antigo distrito. Várias dessas peças estão expostas hoje no Memorial de Guanambi (Casa de Dona Dedé). Sobre o estudo da genealogia das famílias de Guanambi, podemos afirmar com muita convicção que ninguém, mas ninguém mesmo, sabia mais do que ele sobre as origens das nossas famílias. Seu Quias dissertava essas origens familiares sempre com alguns detalhes os que ilustravam muito bem o entrelaçamento das árvores de costados das famílias dos Teixeira, Xavier, Ribeiro, Carvalho e, em particular, as origens da tertúlia COTRIM.

Nos anos cinqüentas, quando a velha vila de Ceraíma estava condenada a ser eliminada pelas águas de uma barragem em construção pelo D.N.O.C.S., Seu Quias assumia com determinação e coragem o compromisso de transferir a sede da antiga vila do Gentio para um lugar mais seguro onde a comunidade pudesse presenciar todos os dias, a boca da noite a engolir o sol. Do mesmo modo, o senhor Generaldo de Souza Teixeira desejava e batalhava muito para que a transferência da vila fosse feita em favor do povoado de Morrinhos, que estava em franco desenvolvimento. Mas, não foi assim que aconteceu. Naquela oportunidade Seu Quias, com o apoio de toda a população da vila, recuperava o velho Cruzeiro do Sangradouro da Lagoa do Gentio (datado de 1854) para depois fincá-lo por entre os blocos de pedras existentes no pé da Serra do Espírito Santo, onde assinalava o lugar que seria construído a sede da Vila Nova de Ceraíma. Portanto, ele foi o responsável pela criação da Vila Nova de Ceraíma no ano de 1954.

Seu Quias faleceu na cidade de Guanambi no dia de São José – 19 de março – causando um imenso pesar em toda a sociedade guanambiense. Durante o velório, não obstante a presença de inúmeros amigos e familiares, ainda assim foi sentida, com amarga tristeza, a falta de uma representação política. É exato que os homens públicos formam uma sociedade da qual ele tanto apreciava, mas inexplicavelmente neste dia não houve nenhuma apreciação para com a sua despedida final. Todavia, os intelectuais da augusta Academia Guanambiense de Letras estiveram presentes na Câmara Ardente para levar-lhe o último adeus e, também, conforto aos seus familiares. Por fim, nós entendemos que morreu um titã deixando um vazio enorme no entrevero da política local e uma saudade sem tamanho no seio de sua família.

O nosso pai Ezequias Manoel Cotrim morreu deixando também nove filhos, vinte e dois netos, oito bisnetos e um interessante legado histórico-geográfico sobre a cidade de Guanambi e a sua região. Sempre há um momento de tristeza quando se perde um ente querido. É bem verdade! Por isso mesmo, querido e saudoso pai, se nós lhe trazemos a expressão de nossa dor, também lhe declaramos confiantes que os seus ensinamentos, as suas virtudes e o seu caráter de homem probo hão de servir de estímulo para todos nós e para as novas gerações, que poderão com isso construírem um mundo bem melhor para se viver. Obrigado Pai!

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