sábado, 1 de agosto de 2009

1 - O IDÍLIO DE PÓRCIA DE CASTRO E LEOLINO CANGUÇU



DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

O professor José Walter Pires, sociólogo e poeta da linguagem matuta é um dos mais fúlgidos representantes da literatura-de-cordel deste nosso sertão baiano. Poucos conseguem narrativas tão bem elaboradas como esta apresentada aqui no seu belíssimo Idílio de Pórcia e Leolino. A história é por demais conhecida, pois sou um contumaz pesquisador de suas origens. Entretanto, a maneira com que o poeta escreve a literatura-de-cordel, é que me impressiona, não só pela sua capacidade criativa, mas tão somente pela beleza dos seus versos. Desde o primeiro deles ao último o leitor viaja contra o tempo e vai situar-se no final do século dezenove. A verdade é que o poeta José Walter tem uma facilidade enorme de soltar os versos aos mornos ventos da imaginação, formando estrofes carregadas de sentimentos variados e ritmos dolentes que evocam os encantos da menina Pórcia. Se a história do jovem casal já era bonita, agora ficou muito mais diante desta apimentada dose de emoção e do desprendimento amoroso. Não cabe a nós perguntar nada sobre a sintetização dos fatos, mas, sim, apreciá-los por estarem bem sintetizados. O que não podemos deixar de sentir é que este recurso deu mais plasticidade ao seu interessante trabalho literário.

Outrossim, a narrativa deste emocionante episódio serve não apenas para situar onde os fatos históricos ocorreram, mas também para registrá-los no conceito de uma nova literatura-de-cordel. Haja vista que esta forma de escrita apresenta um pouco agônica nos dias de hoje. E para sair deste círculo doloroso da inquietação literária, as publicações cordelistas atuais são bem vindas ainda mais quando se tratam de obras com a qualidade e a envergadura das do poeta José Walter Pires.

Na forma de composição do cordel do Idílio de Pórcia e Leolino o autor utilizou a redondilha maior o que oferece maior consistência aos versos e melhor musicalidade às estrofes. Embora a arte da literatura-de-cordel exija de quem a pratique um gosto inusitado para o natural, sua técnica pode ser apreciada na diversificação de cada poeta, parecendo-nos, entretanto, que o método prático consiste na exploração de temas já conhecidos e descritos de maneira mais versátil possível. Assim o poeta José Walter vai narrando em cada estrofe a história de um amor impossível, recheada de emoções e ódio, fatos que sempre ocorreram no seio da família patriarcal brasileira.

No início do século XIX a literatura de cordel era fartamente encontrada em pequenas brochuras, com capa de papel ordinário, contendo os mais belos versos, todos ilustrados por belíssimas xilogravuras, ainda que rústicas. Esses folhetos em brochuras eram pendurados em fios de algodão – os que chamamos de cordéis – nas pequenas feiras das cidades sertanejas. Com o desenvolvimento do parque industrial na tipografia os livros de cordéis ganharam novos formatos, sem mesmo desmerecer os objetivos que sempre primaram seus autores em contar histórias que tendem a criticar os comportamentos não condizentes com os padrões tradicionais. Apesar das mudanças de comportamento entre o poeta e o verso, ainda assim a criação da escrita tem sido preservada na sua íntegra. Também há uma agremiação de leitores que continua fiel à arte cordelista, esta que hoje emana da enorme capacidade de comunicação, sobretudo na simplicidade da escrita, o que vai desde os temas preferidos pelo grande público até as originalidades de suas gravuras.

Sem pretender generalizar, a maioria dos folhetos em literatura-de-cordel narra as mais comoventes histórias de amor. Foi o que fez aqui o poeta José Walter ao narrar a história amorosa de Pórcia e Leolino com total encantamento, fato este que outrora abalou sistematicamente as tradições vigentes nos sertões baianos. Aqui, todo o texto contém sete versos de sete sílabas, o que denominamos de redondilha maior. Também as rimas seguem perfeitamente a técnica literária da septilha. Mas, para um perfeito julgamento sobre o seu cordel é necessário que os leitores façam uma leitura compreensiva dos detalhamentos contidos na novela deste amor idílico. É fácil de assim proceder. É fácil porque a sua grande virtude foi justamente a de possuir o élan dos mestres das letras cordelistas. Um sentimento de mestre inculcado na literatura-de-cordel.


Como parte interessada neste trabalho, uma vez que o meu nome foi ali citado por duas vezes, poderia eu ficar constrangido em elogiá-lo pelo desempenho do seu autor. Mas não há razão para isso. O elogio se faz necessário pela competência do autor e também pela qualidade de sua obra. De tudo isto se entende que a leitura do cordel Idílio de Pórcia e Leolino deve ser recomendada em exaustão. E agora, ler e reler as redondilhas do sociólogo José Walter Pires, poeta que vai perpetuando na literatura baiana – quiçá brasileira – será para mim um privilégio imorredouro. Valemo-nos do ensejo para convidar a todos a fazerem, também, uma leitura saudável e profícua no mundo do idílio apaixonante em que se envolveram Pórcia e Leolino

Um comentário:

  1. Sr Dário, sou tataraneta de Exupério, e sempre ouvi minha mãe contar que a batalha travada contra a família Castro, foi devido a morte brutal do filho de Pórcia com Leolino ( um bebê).Ondem dada pelo pai de Pórcia. Sempre soube que ela vivia com ele. Exupério apenas se defendia dos ataques em suas terras. Não vejo nenhuma citação sobre isto. Abraços.

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