quinta-feira, 6 de agosto de 2009

16 - MARY PERSA NA VALSA Nº 6

Dário Teixeira Cotrim

Com direção de Haroldo Soares e com a participação da talentosa atriz Mary Persa foi encenada no auditório Cândido Canela, do Centro Cultural Hermes de Paula, o emocionante monólogo Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues. O drama traz esse nome em virtude à obra musical de Chopin, que tem o mesmo nome e que era executada pela menina-moça Sônia durante todo o monólogo. Da apresentação do texto, sabe-se que Sônia, uma menina-mulher de apenas quinze anos, fora assassinada pelo seu médico (o doutor Junqueira), enquanto ela tocava a Valsa nº 6 em seu piano. Em toda a dramatização da peça, a menina-moça Sônia relembra fragmentos de sua vida. São dela as memórias evocadas em cena que prende a atenção dos espectadores. Sônia era apaixonada por Paulo e sonhava com o dia em que ele beijaria a sua boca. Não obstante o seu angustiante amor dedicado a Paulo, a menina-moça Sônia repudiava todo tempo qualquer contato físico com um homem, principalmente se esse fosse um homem-casado.

A peça foi apresentada em dois atos (quase imperceptível). É assim para que os espectadores controlem as suas emoções sem, contudo, perder a seqüência dos fatos. A atriz Mary Persa em nenhum momento titubeou na sua fala. Ela esteve impecável. Falante, com expressões faciais condizentes com a sua fala, ela conseguiu prender a platéia todo o tempo entre os gritos, os choros e os risos. Ovacionada com justiça, no final ela veio até o público onde recebeu os merecidos aplausos. Haroldo Soares, por sua vez, apresentava-se feliz com a sua direção, pois tinha a certeza da satisfação do público em virtude das manifestações ocorridas no final da peça. Era uma realização!

Em vista disso, entendemos que o diretor Haroldo Soares tem a sua carreira identificada com as obras de Nelson Rodrigues. Porém, impossibilitado de apresentar no palco um piano branco com cortinas vermelhas - como sugere Nelson Rodrigues - ele usou da criatividade e ilustrou o ambiente cênico com dezenas de velas acesas. Ora, os testos de Nelson Rodrigues têm dessas coisas. O palco ainda recebeu jogo de luzes onde a menina-moça Sônia se multiplicava na projeção das sombras. Às vezes ela era o doutor Junqueira, outras vezes o próprio pai ou a mãe. Cada personagem que ela fazia tinha um tom de voz todo próprio e as características singulares de cada um. O doutor Junqueira, por exemplo, que puxava de uma perna e o seu pai que alisava o imaginário bigode. Entretanto, todos esses personagens buscavam concretizar a idéia de Sônia entre a paixão e a morte.

A Valsa nº 6 de Chopin nunca é tocada até o final. E nem poderia ser. Mas, interessa-nos ressaltar que nas idas e vindas de Sônia, ao seu piano, sempre acontecia num acorde que não representava a ideia de uma paralisação. Pelo contrário a seqüência entre a voz de Sônia e a execução da música paralisava a platéia emocionalmente e nunca o espetáculo. De maneira que a fala mansa ou brusca da atriz, assentava como uma luva aos nossos ouvidos, ora com espanto, ora com alegria incomum e muitas das vezes num suspense característico do próprio Nelson Rodrigues.

O Grupo Artecena mostrou competência nesta 8ª Mostra de Teatro de Montes Claros com a apresentação de Valsa nº 6. É claro que não estamos sugerindo que se dê preeminência às artes cênicas, em detrimento da música, das artes plásticas e da literatura. Há em todas elas valores absolutos. Aliás, o trabalho sério de Haroldo Soares revela a sua inquestionável competência na direção do espetáculo. Por outro lado, a extraordinária revelação da atriz Mary Persa, como se vê, coloca o teatro de Montes Claros entre os melhores do Estado de Minas Gerais
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