sábado, 22 de agosto de 2009

FATOS & FOTOS

Cena do filme Leocádia. A atriz Beatriz Rocha, no papel de Leocádia, lavando roupa no lajedão lugar onde ocorreu o crime contra a jovem rapariga Leocádia.

LEOCÁDIA: O FILME


Dário Teixeira Cotrim

A película Leocádia: o filme, com roteiro e direção do ilustre acadêmico Benedito Teixeira Gomes e o aval da Prefeitura Municipal de Guanambi (através das Secretarias de Educação e da Cultura), traz para a sociedade guanambiense uma nova versão daquilo que nós aprendemos na escola pública municipal e/ou nas rodas de conversas com as pessoas mais velhas sobre a vida pregressa da jovem rapariga Leocádia. Tem o filme uma imagem perfeita, com luzes e cores. O som dos diálogos é de excelente qualidade, destacando-se a trilha sonora de Alessandro Ramos que realmente encanta a todos nós os seus distintos espectadores. Os atores do elenco, mesmo sendo tratados carinhosamente de “artistas-amadores”, eles desempenharam com extrema competência e muita dedicação a espinhosa missão de representar. O filme é baseado em fatos reais.

Entretanto, faltou no enredo do filme um pouco mais de pesquisa. Primeiro sobre o tempo (1889-1908) e espaço onde detectamos algumas incorreções. A propósito disso, estamos transcrevendo para cá algumas considerações sobre a existência de Belarmina e Florinda. Vejamos: A lendária Belarmina teria nascido na Bahia entre 1813 e 1815 e falecida entre 1875 e 1877, se levarmos em conta a afirmação de Domingos Antônio Teixeira de que “foi assim que, já ao terminar o terceiro quartel do século XIX, existia o arraial de Beija Flor”. Pois bem, a data seria a terceira parte de cem anos, ou seja, de 1815 a 1875. Continua, ainda, o velho Teixeirinha dizendo que “quando em 1880 foi criado o distrito de Paz ou distrito policial, o arraial recebeu a denominação de Bela-Flor, mãe e filha foram suas fundadoras”. Cremos, portanto, na veneração póstuma de uma delas ou das duas, mas provavelmente de Belarmina, a mãe. Analisando os fatos, não poderia à época de Leocádia, de 1905 a 1908, dona Maria das Neves ser a mãe de Florinda (ou Fulô). Disse Elísio Cardoso Guimarães em seu livro “Leocádia” que “Dona Maria das Neves, vulgarmente conhecida por Maria das Oveias (...) era uma das festeiras de Santo Antônio, a quem fazia devoção para que suas filhas, Fulô e Santinha se casassem”. Ora, poderia até Florinda (Fulô) – com setenta e seis anos de idade, no ano de 1908 – ter ido morar na casa de Maria das Oveias, juntamente com a jovem Santinha, mas não há, contudo, nos anais de Guanambi, fatos ou dados que comprovam a existência de Maria das Oveias e nem mesmo notícias de que Florinda tivera algum dia, uma única irmã. Resumindo: Fulô não caberia no filme, ou então fosse ela uma companheira de Santinha, filha de Belarmina e nunca a filha de Maria das Oveias.

O segundo questionamento que formulamos se refere a religiosidade da época. Pelo tema impactante e sempre polêmico, entendemos que o diretor Benedito Teixeira Gomes, por ser evangélico fiel as suas convicções religiosas, não se importou em aprofundar os seus estudos sobre a influência da Igreja Católica. Nota-se que em nenhum momento aparece a imagem de uma Igreja como fundo nas cenas alusivas às rezas não obstante a existência da ladainha de São José e o vai-de-virá. Um fato inaceitável. Outro erro absurdo: Fulô beijava a imagem de Santo Antônio e não os homens da venda de Maria das Oveias. Por isso, entendemos ainda que a história foi deturpada pela produção, até porque não foram gravadas as rezas (Santo Antônio) e nem foram realizadas as quermesses, partes das festividades que sempre aconteciam no adro das velhas igrejas católicas. Mas, não devemos entender que as falhas contidas no roteiro deste filme servirão para sobrepor a beleza da caatinga do agreste sertão baiano onde o carro de bois e os outros apetrechos filmados representam com fidelidade os nossos costumes e as nossas tradições. Ainda assim, não se poderia exigir melhor qualidade na produção deste filme, senão a verdade dos fatos para que a história de nossa terra seja preservada em benefício das novas gerações.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

FATOS & FOTOS

As Festas de Agosto em Montes Claros.

23 - FESTAS DE AGOSTO: FATOS FOTOS E FITAS


Dário Teixeira Cotrim

Não pretendo aqui falar das festas de agosto, mas tão somente do belíssimo livro Festas de Agosto com os seus fatos, com as suas fotos e com as suas fitas, fitas coloridas que enfeitam as ruas sinuosas de Montes Claros. A obra traz a assinatura da ilustre confrade Ângela Martins Ferreira, que é inconfundível, pois o seu trabalho fotográfico sempre esteve palmilhando o caminho das artes em todos os seus quadrantes. O seu livro Festas de Agosto é uma obra sem similar, cujas características são acentuadas na maneira única de registrar a maior manifestação religiosa de nossa cidade, com a melhor apresentação fotográfica e o maior volume de informações possíveis.

A beleza contagiante do livro de Ângela Martins, uma esmerada profissional da fotografia, pode de alguma maneira levar adiante o trabalho sensível e competente da autora à perfeição da arte que ela realiza na sua área. A idéia de se publicar, em livro, a história fotográfica das festas de agosto tem um sentido real, o de consolidar o amor e o carinho que a artista plástica sente pela terra em que escolheu para viver. Não obstante, o compromisso que todos nós temos pelo patrimônio cultural da nossa cidade, devemos cuidar para que este patrimônio seja preservado como herança para as futuras gerações. É isso que Ângela Martins procura fazer, elaborando e publicando o seu trabalho artístico em fotografias num belíssimo livro, e denominado-o com o título de Festas de Agosto.

A Secretaria Municipal de Cultura, dando prosseguimento a sua jornada festiva durante todo este mês de agosto, divulga com entusiasmo explicito o lançamento do influente livro de Ângela Martins: Festas de Agosto. O casamento é perfeito: as festas de agosto e o livro Festas de Agosto. Ângela Martins cria fatos, revela fotos e ilustra fitas. Com mais de uma centena de belas fotografias coloridas, o livro traz ainda vários textos que merecem reflexões de parte a parte. Os escritores, os artistas plásticos e os escultores são unânimes. Na opinião deles o livro de Ângela Martins é o mais importante documento sobre a história das manifestações religiosas e populares dos montes-clarenses.

Nota-se que a diversidade das fotografias reunidas na obra Festas de Agosto pode ser avaliada pelas lentes mágicas das câmaras fotográficas postas em ângulos estrategicamente posicionados para este fim. É o efeito das luzes pelo efeito das sombras. Mas, nem só de fotografias vive a artista plástica Ângela Martins. Embora ela já tenha deixado patente a sua paixão pela arte de retratar pessoas e objetos, muitos dos seus trabalhos esbarram nas pesquisas das nossas tradições e dos nossos costumes. “A memória é um motor fundamental da criatividade: esta afirmação se aplica tanto aos indivíduos que encontram em seu patrimônio natural e cultural, material e imaterial os pontos de referência de sua identidade e as fontes de sua inspiração”. (UNESCO)

Aqui é o caso do seu livro Festas de Agosto, que se trata de um belíssimo álbum fotográfico e também de um importantíssimo álbum documentário, conforme o denominou com muita propriedade o historiador Haroldo Lívio de Oliveira. A propósito, a lembrança de homenagear os foliões que durante anos dedicaram com esmero e carinho as Festas de Agosto, a autora, carinhosamente, fez registrar na Página da Saudade os nomes de Otacílio dos Reis (Sinhô), José Calixto da Cruz (Mestre Nenzinho) e Joaquim Pereira da Silva (Joaquim Popó). E, ainda que de relance, o documentário sobre a vida de “Aníbal, um carroceiro e seus marujos”. Parabéns Ângela!

sábado, 8 de agosto de 2009

FATOS & FOTOS

Ricardo Junior, Júlia e Dário Cotrim. Foto tirada na festa de Ricardo Junior quando Dário Cotrim recebeu o Diploma Lazinho Pimenta - 95, o evento aconteceu no dia 5 de maio de 1996, no Automóvel Clube de Montes Claros.

22 - DOUG & BELINHA


Dário Teixeira Cotrim

A relação familiar entre o homem e os animais teve inicio há doze mil anos. Segundo pesquisa de Marcelo Marthe, tudo aconteceu depois de ser encontrado no Oriente Médio os “restos fossilizados de uma mulher abraçada a um filhote de cão”. Ao longo dos anos, os animais foram considerados úteis ao homem como ferramenta de trabalho. E neste caso revelam-se os cães e os gatos entre todos os outros animais domesticados os que hoje habitam as residências rurais e os apartamentos das grandes cidades. Portanto, sempre foram os bichanos e os cachorrinhos os mais queridos e os mais apreciados nos lares brasileiros. É interessante notar que o gato em relação ao cachorro é um animal manhoso, meigo e preguiçoso e, também, muito menos amigo. Por outro lado, o cachorro que ainda é considerado uma peça importante no trabalho do homem é o seu melhor amigo. Nos tempos das caçadas bem aventuradas o cachorro tinha ali um importante papel a desempenhar. O cão de guarda é, sem dúvidas, um vigilante indispensável nas residências familiares e nas casas comerciais. Não há como imaginar uma propriedade rural sem a presença desses adoráveis animais: o gato e o cachorro.

O cão é o melhor amigo do homem e nem por isso o homem é o melhor amigo do cão. No livro Vidas Secas, de Graciliano Ramos a cadela Baleia “é uma síntese da tragédia da fome. Humanizada, ela tem mais consciência da realidade que os próprios donos, embrutecidos pela miséria”. Por isso é necessário entender e respeitar os animais. Na reportagem da Revista Veja de 22 de julho, traz a seguinte manchete: “A relação milenar entre homens e bichos de estimação entrou numa fase. Mais do que amigos, eles agora são como filhos. E a convivência pode ser tão complicada quanto a dos pais com um adolescente temperamental”. Cães e gatos são tratados como filhos e deve ser por isso mesmo que eles andam sempre brigando. A propósito disso, me vem na lembrança o simpático casalzinho de cachorros da minha querida vizinha Maria Cecília: DOUG & BELINHA. São dois belíssimos cachorrinhos, da raça poodle, os companheiros inseparáveis da menina-moça que reside em frente à nossa casa. Na convivência do dia a dia, notamos que o animalzinho torna-se o espelho do seu dono: na beleza, no comportamento e na afeição. Assim, pois, é a Belinha, a bela cadelinha que desfila pela casa com ares de superioridade. Ela tem o seu espaço definido para todas as suas necessidades e é tratada por todas da casa com o maior carinho do mundo.

Do mesmo modo é o cachorrinho Doug. Nem tanto sapeca com parece ser a sua companheira, ele nos impressiona pela diplomacia dos bichos. Também nos mostra indignado quando é ignorado pela presença de alguém. Essa personalidade canina é inerente somente aos machos, não obstante a isso é necessário pôr-lhe limites. Maria Cecília sempre é vista rodeada pelos seus adorados cachorrinhos poodle’s. Uma amizade que vai se tornando cada vez mais firme, sincera e adorável. Com eles é impossível uma vida solitária e triste, pois a tristeza e a solidão na sua casa não têm espaço. Doug & Belinha são realmente uns amores de cachorros e eles sempre festejam – ao modo deles é claro – quando alguma visita por lá aparece.

O cão Poodle, também chamado de Barbone e Caniche, é considerado uma das raças mais inteligentes que existem. Eles são obedientes, são dóceis e versáteis. Por possuir tais características e uma aparência de real encantamento, é visto como o mais popular das raças em todo o mundo. O nome Poodle deriva da palavra alemã "pudel", que significa "chapinhar na água". No passado, esse animal serviu como excelente cão de busca e hoje é, verdadeiramente, um belíssimo adorno-vivo na vida das pessoas, principalmente para aqueles que procuram uma companhia sincera, doce e alegre. Para Doug & Belinha e, também para a nossa adorada menina-moça Maria Cecília o nosso carinho e a nossa admiração! Benza Deus!

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim recebendo das mãos de Júlia Maria Lima Cotrim o diploma de sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, no Automóvel Clube de Montes Claros.

21 - RETALHOS DE MINHA VIDA

Dário Teixeira Cotrim

Acabei de ler um belíssimo livro de memórias. Trata-se de “Retalhos de minha vida”, do confrade-amigo Afonso Prates Borba. Na verdade é um livro que todos nós gostaríamos de tê-lo escrito um dia, haja vista as coincidências de uma época, onde situações idênticas aconteceram, na década de sessenta, com todos os moços na difícil fase da puberdade. As lembranças, ainda que vagamente, remontam os momentos de jogar finca e bolinhas de gude, de rodar pião, de soltar pipas (papagaio) e de brincar de cantiga de roda no embalo gostoso da ciranda-cirandinha. Ah, quem não se lembra dos belos momentos como estes e que não se rende às lágrimas? Afonso Prates Borba foi muito feliz na sua descrição de menino peralta, caçador de passarinhos e de banhar-se em poços de águas cristalinas no rio Vieira de outrora. Verdade seja – e isso o confesso aos distintos leitores do Afonso – verdade seja, direi, que muitas vezes confundir-me com os relatos aqui descritos como se eles fossem somente meus. Vocês, caríssimos leitores, ao término da leitura hão de concordar comigo em gênero e grau.

O livro “Retalhos de minha vida” divide-se em partes distintas. Há nisso o que quer que seja singularmente necessário e solene: por isso a infância, a adolescência e a fase adulta em que o autor retrata com detalhes a labuta da conquista até a sua formação familiar, são momentos agradáveis, e maus momentos também, de há muito que se faziam sentir a necessidade de escrevê-los num álbum de memórias. O mundo da descoberta, “pelo menos no conceito de um jovem que se fazia adulto”, se afirma numa única oportunidade existente na sua escrita: perdi a minha “inocência”. Eu cá penso assim, quantas situações idênticas nós passamos em nossas vidas à procura das “marias”? Por outro lado, os entretenimentos se avolumavam somente por influência das sessões de cinemas. A imitação do Zorro e do Cavalheiro-Negro cada um dos meninos trazia como animação de vida. Aliás, a vida só valeria a pena se estivesse embutido nela os percalços da vadiagem em tempos de meninice, com a confirmação do ubi sunt, isto é, a busca dos tempos “idos e vividos”.

Uma autobiografia pode derivar-se serenamente por esteiras de rosas ou, talvez, por precipitar-se pela garganta das voragens enturvando as águas cristalinas do sonhado porvir. Aqui é o primeiro caso. Nada é descrito com ódio no coração, até mesmo os momentos mais difíceis em que passou o biografado. Pois, tem muito por onde se quer bem, muito onde o amor é o verdadeiro “lenitivo nos momentos de dor” e, também, o construtor de uma vida a dois. Entretanto, há momentos em que apresenta revolta contra hábitos e conceitos forrados de hipocrisia e disse que “sente, hoje, uma tristeza e uma vergonha imensa por [Brasília] abrigar no seu seio, tão carinhosamente moldado, uma camarilha enorme de políticos sem moral, sem sentimentos de amor à pátria e corruptos sob todas as formas”. Outro não é, aliás, o nosso pensamento sobre os políticos brasileiros.

“Retalhos de minha vida” não é uma obra best-seller. Mas, certamente que será um livro de qualidade literária inquestionável, haja vista o conhecimento que tem o autor da língua pátria. No descrever indefinidamente os mesmos motivos de graça e beleza, estava o autor no caminho da sabedoria. Nem um rápido clarão de inveja poderá, sequer, macular qualquer página deste livro repleto de amor e de bondade. A poesia é a arte da escrita que salta do coração. Nada mais propício e acalentador para Afonso Prates Borba do que o encerramento do seu livro ser á moda dos poetas românticos. Por isso, Bodas de Ouro atende perfeitamente as inspirações recebidas das esferas de Deus. Daí o seu movimento de plena alegria e o ardente entusiasmo em publicar essas reminiscências para a posteridade. Meu prezado confrade das letras, Afonso Prates Borba, assim como todos nós, você era feliz e não sabia.

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim sendo homenageado pelo Governador do Rotary Internacional, o doutor Wanderlino Arruda. Na solenidade estavam presentes, entre outros companheiros, o doutor Luiz der Paula Ferreira e Luiz Pires Filho.

20 - WALDEIR CORRÊA


Dário Teixeira Cotrim

Há quem diga de modo diferente, mas o companheirismo cultuado entre os sócios do Rotary Internacional é algo que se torna cada vez mais agradável e de alianças indissolúveis. As relações rotárias em todos os momentos fortalecem o grau de confiança e, principalmente, valoriza o respeito e a amizade que existem entre os membros efetivos de um Rotary Club, características essas que são reconhecidas de grande importância para o sucesso de cada agremiação. Não é por acaso que o lema “dar de si antes de pensar em si” sempre teve o acatamento de toda a família rotária.

Foi no Rotary Club de Montes Claros – União, há mais de dois anos, que tivemos a felicidade de conhecer mais de perto o companheiro Waldeir Corrêa, quando este era presidente do nosso clube. De imediato nasceu entre nós uma amizade sincera e duradoura, se não fosse o seu inesperado passamento, pois nunca haveria de ter uma razão suficientemente forte para que um dia ela viesse a desmoronar-se. Waldeir era um companheiro completo, equilibrado, responsável e justo. Reconhecido por todos os demais companheiros como sendo um autêntico gentleman, pois era um ser humano verdadeiramente cavalheiro e respeitoso. E, por outro lado, o nosso ilustre companheiro Waldeir sempre esteve á disposição do clube para qualquer eventualidade.

A presença do companheiro Waldeir em nosso meio significava uma segurança necessária na condução dos serviços inerentes ás nossas reuniões semanais. Ele era sempre consultado por seus companheiros, isso devido a sua experiência e a sua retidão de comportamento. Nos momentos de companheirismo notava-se maior aglomerado de pessoas em volta á sua mesa, pois todos queriam compartilhar com ele num delicioso “dedinho-de-prosa”. Certamente que essa oportunidade ímpar era disputada por todos aqueles que mais se interessavam sobre as instruções rotárias do nosso Clube.

Com a morte do companheiro Waldeir Corrêa, os Rotarys Clubs de Montes Claros ficam bem mais pobres. Aliás, ficam muito mais pobres todos os Rotarys Clubs. Entretanto, a figura simpática e alegre do nosso companheiro haverá de permanecer eternamente entre todos nós. Os seus ensinamentos deverão perpetuar através dos tempos, iluminando o nosso futuro e o futuro do nosso clube com a devida sabedoria que somente ele soube imprimir nos momentos mais precisos. O companheiro Waldeir Corrêa é hoje um exemplo a ser seguido por todos, não só pelas suas ações rotárias, mas e, principalmente, pela sua generosidade de um bom cristão, sempre trabalhando em favor dos mais necessitados.

O Rotary Club de Montes Claros – União enlutou pesarosamente com a morte do companheiro Waldeir Corrêa e todos nós também. Todavia, haveremos de lembrá-lo em todas as nossas reuniões, uma vez que a sua presença espiritual nunca deixará de existir nos momentos de “bater-o-sino” e convidar a todos os companheiros presentes para saldarem o Pavilhão Nacional.

Brasília, 18 de fevereiro de 2008.

FATOS & FOTOS

Giovane Santarosa, Horaldo Lívio, Dário Cotrim, Petrônio Braz e Itamaury Teles.



19 - UMA REVELAÇÃO SURPREENDENTE


Dário Teixeira Cotrim

Há momentos que são inesquecíveis. Um desses momentos inesquecíveis está acontecendo ao nosso redor, repleto de felicidades tantas e doces. Assim, foi o lançamento do livro Caminhos das Letras, de Júlia Maria Lima Cotrim, pela Academia Montesclarense de Letras, um momento que nunca será apagado de nossa memória. O livro, que na verdade é um pequeno apanhado das minhas atividades artísticas e literárias, oferece ao leitor uma oportunidade ímpar de entender o quanto é custoso trilhar o caminho das letras. Custoso e gratificante, diga-se de passagem. Mas, nessa trajetória das letras delineou-se, portanto, uma forma de conquista sem a visão de uma luz no final do túnel. Isso porque, tudo que ali está registrado não passa dos primeiros passos de um eterno e disciplinado aprendiz, pois há muito que se fazer no tempo-futuro e também no infinito-espaço.

Júlia é, antes de tudo, uma leitora contumaz. A língua portuguesa é cultuada por ela nos seus mínimos detalhes. Ao contrário de algumas vertentes da literatura de vanguarda, Júlia gosta do que é mesmo tradicional na linguagem, não obstante cultivar os neologismos e a liberdade plena da expressão literária. Como se vê, é na leitura que ela se realiza. Em suma, todos os cronistas de Montes Claros que publicam nos jornais têm os seus textos cuidadosamente apreciados por ela já no despertar do dia. Os seus escritores/cronistas preferidos são: João Caetano Canela, Wanderlino Arruda, Petrônio Braz, Nelson Pereira Mendes e Itamaury Teles. Júlia confessa com entusiasmo que “as poesias de Dóris Araújo e Antônio Felix são ótimas e que os poetas considerados agitadores estão fora da minha realidade!” Existem, entretanto, três livros na lista dos autores montesclarense que ela entende serem os melhores entre os livros que leu: Catrumano, de Ildeu Braúna, O Andarilho do São Francisco, de Amelina Chaves e Pássaro na Tempestade, de João Valle Maurício.

Fazendo uma digressão do assunto aqui em pauta anotamos dois outros momentos de grande significação para Júlia e para todos nós. Foram, sem nenhuma bajulação, as homenagens que ela recebeu da sociedade montes-clarense. O troféu “A Vovó do Ano”, concebido pela artista plástica Felicidade Patrocínio e recebido da colunista Ruth Jabbur, do Jornal GAZETA e, muito recentemente, o belíssimo diploma “Oscar Mulher”, do colunista social João Jorge, do jornal O NORTE, com destaque especial na categoria “sociedade”.

Além do livro O Caminho das Letras, Júlia prepara agora o seu próximo trabalho literário, desta vez catalogando com extremo esmero o que ela adora fazer na arte da culinária. O livro Caderno de Receitas que já está no forno (ou melhor, no prelo). Mesmo concentrando as suas investidas artísticas somente no doce intimismo, nota-se que a sua criatividade literária é extremamente condizente com a sua percepção da leitura. Interpretar textos é o que ela faz com gosto e arte. Por isso, ela ler e reler tantas quantas vezes forem necessário para o bom entendimento da escrita. É exato que a leitura e a escrita refletem bastante esta dualidade do comportamento individual e é por isso que há tantas razões para direcionar-se aos bons livros. Cada leitor comporta à sua maneira, na retaguarda ou na vanguarda das idéias publicadas em artigos de jornais sem, contudo, deixar de apreciar a beleza que envolve as palavras em poesia.

A propósito: também os meus livros (os poemas, as crônicas e as pesquisas no campo da história) passam pelo crivo minucioso de Júlia. Aliás, este texto já foi revisado por ela, o que não achou nada de interessante para ser publicado. Mas, isso é compreensível, evidentemente! Mesmo assim o e-mail será remetido oportunamente para a redação do Suplemento Mulher (Jornal de Notícias). A outra dimensão desta crônica é estritamente pessoal. Como parte interessada no livro O Caminho das Letras quero de público agradecer a autora pela publicação do seu livro. Nota-se que o momento aqui é totalmente inesquecível e que ele dispõe de condições favoráveis para desejar a você, Júlia, sucesso sempre e sempre junto daquele que muito lhe ama. EU!

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim, Luiz Tadeu Leite (Prefeito de Montes Claros) e a escritora Amelina Chaves.

18 - VINGANÇAS: O LIVRO DE JOELSON

Dário Teixeira Cotrim

O título deste influente livro “Vinganças”, de Joelson Costa, sugere ao leitor a existência da coragem para continuar com a sua leitura. Desde o primeiro fato onde o velho Cícero, o pai do menino Júlio, é assassinado diante de seus familiares por ter ele surrupiado algumas abóboras no roçado do vizinho, até a sua visita ao assassino na penúltima página do livro, que a ideia de vingança habitava no coração de Júlio. Pode-se dizer que a luta entre a sabedoria e o desejo de vingança sempre termina através do perdão. Assim aconteceu em “Vinganças” para abrilhantar ainda mais a belíssima obra de Joelson Costa. Antes, porém, o autor lembra-nos de duas passagens de extremo sofrimento e de miséria absoluta que foram registradas na literatura e, também, nas artes plásticas brasileiras: uma do acadêmico Graciliano Ramos em seu livro “Vidas Secas” e a outra do ilustre artista plástico Candido Portinari com o seu impressionante quadro “Os Retirantes”.

O autor Joelson Costa, na verdade, quer tão somente desabafar nas palavras escritas a sua revolta contra as injustiças dos seres humanos. Portanto, os fatos aqui nos recomendam lembrar do poeta grego Ésquilo (de 525a.C. a 456a.C. e foi considerado o fundador da tragédia), que há 25 séculos escrevia em papiros as suas idéias sobre a vingança: “enquanto dormimos / a dor que não se dissipa / cai gota a gota sobre nosso coração / até que, em meio ao nosso desespero / e contra a nossa vontade / apenas pela graça divina / vem a sabedoria”. Com o passar dos tempos a humanidade encontrou maneiras de conter a força da vingança que ainda existe na natureza humana. O principal controle foi o sistema judiciário, que passou a mediar as disputas entre vítimas e agressores. Mas isso não é o bastante.

O livro “Vinganças”, de Joelson Costa, é uma narrativa de ficção em forma de romance, onde não há a presença do amor noveleiro, mas tão somente de brutais assassinatos. A figura feminina poucas vezes aparece e quando aparece não lhe é dado o destaque merecido. Entende-se, talvez, que a narrativa de “Vinganças” nada tem a ver com as mulheres. Ledo engano! A cena do estupro da moça Mabel Couch é rica de detalhes e no final o “Júlio ficou indeciso, pois não sabia que fizera mal à moça ou a si mesmo”. A atitude de Júlio era a de punir e não vingar. Não obstante a perda brutal do seu pai (Cícero) e a sua determinação de vingar-lhe a morte, a jovem Mabel Couch não era a pessoa para ser julgada em que medida o agressor (Ambrósio) deveria pagar pelo que fez. A própria incapacidade da justiça levou o ser humano a está propenso a, inevitavelmente, cometer alguns erros. Disse-nos Teófilo Dias que a vingança é uma ambrosia: quem a bebeu, deseja mais.

Outro aspecto importante do livro de Joelson Costa é a descrição dos conflitos internacionais: a grande guerra mundial e os atentados subversivos do povo islâmico contra o imperialismo americano. Não menos maléficos para a humanidade são citados os nomes de Fidel Castro e Che Guevara. Para eles (e todos nós) o difícil era consertar o mundo!

O livro tem leveza na narrativa, muito embora se tratar de um tema polêmico: a injustiça. “Os homens só praticam a justiça porque tem medo de serem vítimas da injustiça”. A injustiça é que leva as pessoas a fazerem justiça com as próprias mãos. Entretanto, o que deveria ter um final trágico em “Vinganças”, termina num belo exemplo cristão: o perdão. Aliás, neste caso o castigo divino já havia feito a sua parte, fazendo com que a abastada família de Ambrósio permanecesse na miséria. Não foi o esperado, mas o bastante para acomodar o ódio que vivia no coração de Júlio.

O desejo de vingança e a capacidade de perdoar estão imbuídos no enredo do livro. É bem verdade que o primeiro tópico ocupa a maioria de suas páginas, alimentando o autor na prática de mais um crime. Mas, o segundo tópico, pela força divina, precisou apenas de uma abóbora como forma de perdão para consolidar o final do livro. E assim “Júlio deixou nas mãos do velho Ambrósio uma abóbora e saiu satisfeito”.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

FATOS & FOTOS


Júlia e Dário Cotrim com o jornalista João Jorge quando do recebimento do prêmio Mérito e Porjeção - 94, no dia 22 de dezembro de 1994.

17 - A ARTE DE SORAYA


Dário Teixeira Cotrim

Reunir em um mesmo espaço cultural os quadros (óleo sobre tela) e os quadros sacros (pequenos oratórios) da artista plástica Soraya Correia foi o grande objetivo da Secretaria Municipal de Cultura para abrilhantar as Festas de Agosto. O mundo plasmado por Soraya é povoado de belas flores, de imagens afras e indígenas, de animais e também da natureza estática, tudo isso numa seleção bastante criteriosa capaz de nos raptar por momentos de absoluto encantamento para depois imiscuir-se na magia dos nossos sonhos. No ensaio apresentado pela artista nota-se com clareza o poder das cores, todas elas em perfeita sintonia com o fundo abstrato de cada uma das telas, onde a fantasia se confunde com a realidade. Outras características perfeitamente observadas são aquelas que habitam nos traços que contornam a imagem estática e na beleza das figuras humanas (mulheres e crianças) que ganham uma mistura de trevas e luzes como se tudo estivesse mergulhado no mundo da terrível nostalgia.

Notadamente o trabalho artístico de Soraya Correia representa a tradição de cultura acima de quaisquer preconceitos. Os quadros "Gorutubana", "Gorutubanos" e os meninos índios exemplificam essa nossa afirmativa. De antemão, podemos, pois, acreditar que a arte no geral possui, prescindindo de sua importância estética, um valor prático para a criação e a perpetuação do belo. Certamente que ela é assim em função do amadurecimento dos artistas. Até porque, os quadros da jovem Soraya são revestidos de grande afetividade. Os rostos negros retomam expressões de um passado revelado pela memória inglória; as flores adquirem coloridos extravagantes sem, contudo, chegar ao limite do exagero. Num único quadro de animais (as araras) o contemplador percebe os movimentos das aves numa beleza realmente irretocável. Soraya é conhecida pelas suas telas de grandes dimensões, com flores e frutos que se repetem e se entrelaçam na riqueza da imaginação.

A jovem Soraya veio da escola da ilustre Cristina Rabelo. Mas, é importante salientar que os ensinamentos ali adquiridos estão a cada momento tomando formas próprias. Disse-nos M. Serullaz no seu livro "O Impressionismo" que "para cada nova maneira de ver, era necessária uma nova maneira de pintar. Os artistas não vão mais representar as formas tais como sabem que são, mas tais como as vêem sob a ação deformadora da luz". Não obstante a essa definição de Serullaz, será perfeitamente normal que as características primárias adquiridas na escola poderão lhe acompanhar por um bom pedaço de tempo.

Resumindo a nossa análise podemos lhes dizer, com imensa alegria, que a obra de Soraya é de uma poderosa originalidade e a sua influência para o renascimento de novos artistas certamente que será por todos inegável. Notamos que a classe dos artistas plásticos não esteve presente no evento. Não obstante a isso notamos a presença das colegas de escola “Cristina Rabelo”. A mostra de quadros de Soraya Correia está sendo apresentada na Galeria "Godofredo Guedes", no Centro de Cultura "Hermes de Paula" e que tem o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Montes Claros.

Durante a abertura da Exposição Individual de Soraya Correia, falou com muita propriedade a dinâmica diretora do Centro Cultura, Rita Maluf, que era um momento muito especial para as artes de Montes Claros. Disse-nos, ainda ela que “o trabalho aqui exposto mostra que revela para o espectador o talento e a criatividade de uma pessoa simples e inteligente, particularmente as suas obras mais recentes, as que registram a figura afro-brasileira e o índio”. Felicidade Vasconcelos Tupinambá, por sua vez, fez um elogio crítico em rápidas pinceladas e ao mesmo tempo uma apresentação biográfica da ilustre artista plástica. Parabéns Soraya! Continue sendo essa pessoa simpática, inteligente e talentosa como você tem demonstrado ser.

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim, Wanderlino Arruda, Márcia, Itamaury Teles e Haroldo Lívio durante o lançamento do Livro "90 Crônicas Selecionadas", de Maria da Glória Caxito Mameluque, no Automóvel Clube de Montes Claros.

16 - MARY PERSA NA VALSA Nº 6

Dário Teixeira Cotrim

Com direção de Haroldo Soares e com a participação da talentosa atriz Mary Persa foi encenada no auditório Cândido Canela, do Centro Cultural Hermes de Paula, o emocionante monólogo Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues. O drama traz esse nome em virtude à obra musical de Chopin, que tem o mesmo nome e que era executada pela menina-moça Sônia durante todo o monólogo. Da apresentação do texto, sabe-se que Sônia, uma menina-mulher de apenas quinze anos, fora assassinada pelo seu médico (o doutor Junqueira), enquanto ela tocava a Valsa nº 6 em seu piano. Em toda a dramatização da peça, a menina-moça Sônia relembra fragmentos de sua vida. São dela as memórias evocadas em cena que prende a atenção dos espectadores. Sônia era apaixonada por Paulo e sonhava com o dia em que ele beijaria a sua boca. Não obstante o seu angustiante amor dedicado a Paulo, a menina-moça Sônia repudiava todo tempo qualquer contato físico com um homem, principalmente se esse fosse um homem-casado.

A peça foi apresentada em dois atos (quase imperceptível). É assim para que os espectadores controlem as suas emoções sem, contudo, perder a seqüência dos fatos. A atriz Mary Persa em nenhum momento titubeou na sua fala. Ela esteve impecável. Falante, com expressões faciais condizentes com a sua fala, ela conseguiu prender a platéia todo o tempo entre os gritos, os choros e os risos. Ovacionada com justiça, no final ela veio até o público onde recebeu os merecidos aplausos. Haroldo Soares, por sua vez, apresentava-se feliz com a sua direção, pois tinha a certeza da satisfação do público em virtude das manifestações ocorridas no final da peça. Era uma realização!

Em vista disso, entendemos que o diretor Haroldo Soares tem a sua carreira identificada com as obras de Nelson Rodrigues. Porém, impossibilitado de apresentar no palco um piano branco com cortinas vermelhas - como sugere Nelson Rodrigues - ele usou da criatividade e ilustrou o ambiente cênico com dezenas de velas acesas. Ora, os testos de Nelson Rodrigues têm dessas coisas. O palco ainda recebeu jogo de luzes onde a menina-moça Sônia se multiplicava na projeção das sombras. Às vezes ela era o doutor Junqueira, outras vezes o próprio pai ou a mãe. Cada personagem que ela fazia tinha um tom de voz todo próprio e as características singulares de cada um. O doutor Junqueira, por exemplo, que puxava de uma perna e o seu pai que alisava o imaginário bigode. Entretanto, todos esses personagens buscavam concretizar a idéia de Sônia entre a paixão e a morte.

A Valsa nº 6 de Chopin nunca é tocada até o final. E nem poderia ser. Mas, interessa-nos ressaltar que nas idas e vindas de Sônia, ao seu piano, sempre acontecia num acorde que não representava a ideia de uma paralisação. Pelo contrário a seqüência entre a voz de Sônia e a execução da música paralisava a platéia emocionalmente e nunca o espetáculo. De maneira que a fala mansa ou brusca da atriz, assentava como uma luva aos nossos ouvidos, ora com espanto, ora com alegria incomum e muitas das vezes num suspense característico do próprio Nelson Rodrigues.

O Grupo Artecena mostrou competência nesta 8ª Mostra de Teatro de Montes Claros com a apresentação de Valsa nº 6. É claro que não estamos sugerindo que se dê preeminência às artes cênicas, em detrimento da música, das artes plásticas e da literatura. Há em todas elas valores absolutos. Aliás, o trabalho sério de Haroldo Soares revela a sua inquestionável competência na direção do espetáculo. Por outro lado, a extraordinária revelação da atriz Mary Persa, como se vê, coloca o teatro de Montes Claros entre os melhores do Estado de Minas Gerais
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domingo, 2 de agosto de 2009

FATOS & FOTOS


Lançamento do livro O Distrito de Paz do Gentio, de Dário Cotrim, em Guanambi - Bahia.

15 - A MORTE DE UM TITÃ

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

“Comecei, honrando a memória de meu pai, e espero acabar, deixando honrada a minha” - Rui Barbosa.

Entre os maiores vultos da geografia, da genealogia e da historiografia do município de Guanambi e da região sobressai, como um dos mais importantes, senão o mais importante de todos eles, o nome do meu saudoso pai Ezequias Manoel Cotrim, que era carinhosamente conhecido pelo apelido de Seu Quias. Os estudos históricos, geográficos e genealógicos sempre foram a sua constante. Incansável, ele buscava insistentemente os livros (O Almanaque Mundial que era o seu livro de cabeceira) e os mapas (o Atlas Mundial), tudo isso para sanar as suas dúvidas e aprimorar os seus conhecimentos. Foi leitor assíduo das revistas: “O Cruzeiro” e “Fatos & Fotos” e, depois, da Revista “Manchete”. Sempre se dizia fã incondicional de Carlos Lacerda, Getúlio Vargas e do general Humberto de Alencar Castelo Branco, pois nunca duvidou das boas intenções do governo militar da Revolução de 1964.

Seu Quias nasceu no dia 27 de novembro de 1921, na antiga Vila de Nossa Senhora do Rosário do Gentio, município de Guanambi/Bahia. Ele era filho do fazendeiro Manoel Antônio Cotrim e de dona Ana Maria Meira Couto. Foi lavrador, comerciante e, sobretudo, um homem de caráter político que combatia bravamente os desmantelos da administração pública em todos os seus segmentos. Aliás, como homem público ele recebia dos seus concidadãos o respeito e a admiração pelo que sempre representou para a cidade de Guanambi e, principalmente, para a pacata Vila Nova de Ceraíma. Eleito pelo povo, ele exerceu o cargo de vereador durante uma década por três mandatos consecutivos - 1967/1971, 1971/1973 e 1973/1977. Registra-se com louvor nos anais da história política do município a sua participação como presidente da Câmara Municipal de Vereadores (em exercício no ano de 1973), quando ele ocupou interinamente o cargo de Prefeito Municipal de Guanambi. Certamente pela sua modéstia poucos avaliaram o grande homem que ele era. Os seus filhos cultuam-lhe o nome e lhe têm sabido honrar as qualidades de inteligência e de caráter que ele possuía.

Por outro lado, Seu Quias era um contumaz conhecedor dos nossos costumes e das nossas tradições. Um contador de causos por excelência! Em vista disso ele nos deixou um arquivo fotográfico dos mais completos e de importância inquestionável sobre a memória política e histórica do seu rincão querido, o Distrito de Paz de Nossa Senhora do Rosário do Gentio (antiga Vila de Ceraíma). São centenas de fotografias, alguns documentos e muitos livros e, ainda, diversas peças do antiquário daquele antigo distrito. Várias dessas peças estão expostas hoje no Memorial de Guanambi (Casa de Dona Dedé). Sobre o estudo da genealogia das famílias de Guanambi, podemos afirmar com muita convicção que ninguém, mas ninguém mesmo, sabia mais do que ele sobre as origens das nossas famílias. Seu Quias dissertava essas origens familiares sempre com alguns detalhes os que ilustravam muito bem o entrelaçamento das árvores de costados das famílias dos Teixeira, Xavier, Ribeiro, Carvalho e, em particular, as origens da tertúlia COTRIM.

Nos anos cinqüentas, quando a velha vila de Ceraíma estava condenada a ser eliminada pelas águas de uma barragem em construção pelo D.N.O.C.S., Seu Quias assumia com determinação e coragem o compromisso de transferir a sede da antiga vila do Gentio para um lugar mais seguro onde a comunidade pudesse presenciar todos os dias, a boca da noite a engolir o sol. Do mesmo modo, o senhor Generaldo de Souza Teixeira desejava e batalhava muito para que a transferência da vila fosse feita em favor do povoado de Morrinhos, que estava em franco desenvolvimento. Mas, não foi assim que aconteceu. Naquela oportunidade Seu Quias, com o apoio de toda a população da vila, recuperava o velho Cruzeiro do Sangradouro da Lagoa do Gentio (datado de 1854) para depois fincá-lo por entre os blocos de pedras existentes no pé da Serra do Espírito Santo, onde assinalava o lugar que seria construído a sede da Vila Nova de Ceraíma. Portanto, ele foi o responsável pela criação da Vila Nova de Ceraíma no ano de 1954.

Seu Quias faleceu na cidade de Guanambi no dia de São José – 19 de março – causando um imenso pesar em toda a sociedade guanambiense. Durante o velório, não obstante a presença de inúmeros amigos e familiares, ainda assim foi sentida, com amarga tristeza, a falta de uma representação política. É exato que os homens públicos formam uma sociedade da qual ele tanto apreciava, mas inexplicavelmente neste dia não houve nenhuma apreciação para com a sua despedida final. Todavia, os intelectuais da augusta Academia Guanambiense de Letras estiveram presentes na Câmara Ardente para levar-lhe o último adeus e, também, conforto aos seus familiares. Por fim, nós entendemos que morreu um titã deixando um vazio enorme no entrevero da política local e uma saudade sem tamanho no seio de sua família.

O nosso pai Ezequias Manoel Cotrim morreu deixando também nove filhos, vinte e dois netos, oito bisnetos e um interessante legado histórico-geográfico sobre a cidade de Guanambi e a sua região. Sempre há um momento de tristeza quando se perde um ente querido. É bem verdade! Por isso mesmo, querido e saudoso pai, se nós lhe trazemos a expressão de nossa dor, também lhe declaramos confiantes que os seus ensinamentos, as suas virtudes e o seu caráter de homem probo hão de servir de estímulo para todos nós e para as novas gerações, que poderão com isso construírem um mundo bem melhor para se viver. Obrigado Pai!

FATOS & FOTOS

O poeta Thiago de Melo (Amazonas), Dário Cotrim, Yvonne de Oliveira Silveira e Olintho Silveira durante a abertura do Psiu Poético.

14 - ESPERANDO A MORTE CHEGAR

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

A cena é uma das mais tristes que os nossos olhos podiam ainda registrar num dia de tanta labuta e incertezas. À vista, um avelhantado casebre com tapume de ramos e ripas tortuosas, já em ruínas. O casebre estava assentado num botumirim ao lado de uma estrada vicinal, estreita e dificultosa, onde uma densa nuvem poeirenta encobria, impiedosamente, até o fundo das almas de quem ali teimava em residir. Paramos o nosso carro num arrebatamento incomum.

Um ancião, que se apresentava desfalecido numa depressão de um provável pequenino regato, não se importava com a presença dos mosquitos e nem sequer percebia a nossa chegada.

O sol abrasador tostava mais ainda a já ressequida vegetação daquele lugar. A imensidão das colinas deixava em nós, a ligeira impressão de um lugar isolado e longe, muito longe da civilização em que vivemos. Entretanto, morava naquele tosco casebre, um casal de velhinhos. Não na mais pura solidão como imaginávamos a princípio, se não fossem algumas aves domésticas que perambulavam pelo terreiro à cata de insetos e migalhas de comida.

Um cachorro vira-lata espreguiçava num pequeno cômoro de areia grossa, e lá continuava no seu relax, indiferentemente da nossa presença. Nesse momento, uma velhinha magérrima, muito apressada, aparece de dentro do tugúrio para nos receber. Era ela uma estranha mulher.

Uma mulher severa e com perturbações mentais. Por tudo isso era difícil de manter com ela uma conversa normal, já que nada ela sabia e de nada ela entendia. Vivia na mais pura escuridão do tempo e da esperança.

Depois dos cumprimentos, sem saber de suas sandices, indagamos a ela onde seria a estrada que dava à comunidade de Panela dos Tapuias. Gesticulando aleatoriamente os braços, tentava nos dizer alguma coisa sobre o que queríamos saber. Nisso, rumou ao encontro do velho companheiro e, aos berros, chamava-o com certa insistência para que ele pudesse nos atender.

- Ô Mané Preto, acorda sô, qui u moço ai tá quereno qui ocê fala cum ele. Ô infiliz de home. Acorda sô.

Manuel Preto, assim como era conhecido, se ajeita o corpo escorado num só braço, passa a mão pelos olhos escuros e ferozes, e daí se dá conta da nossa presença.

- Dia coroné. – disse Manuel Preto meio anestesiado.

- Bom dia. – respondemos felizes, querendo transmitir a ele a nossa satisfação de estarmos ali na sua humilde morada.

Por um momento, ele se levanta e cambaleando para os lados, enquanto bate com as mãos nos trapos que lhe cobria o corpo e nos fala de suas insensatas proezas e de suas espertezas sem nem ter sido perguntado. Aspiramos, por um bom momento, aquele cheiro indefinível de sujeira em que nele impregnava, além do insuportável mau-hálito de cachaça azeda. Resmunga com prepotência sobre a nossa presença. Coisas da maldita embriaguez. Perguntamos-lhe onde se dava a estrada para a comunidade de Panela dos Tapuias. Respondeu-nos com uma convicção invejável. – Não sei... Não sei... Não sei...

Ele não sabia mesmo, e fazer fantasia muito menos. Era por isso um precavido e rude homem do mundo. Um homem que se dizia senhor do mundo! Depois rodopiou sobre os próprios calcanhares, e caiu de bruços na mesma terra que há bem pouco tempo permanecia num sono profundo e distante dos problemas que eram seus. Manuel Preto certamente estava naquele estado de penúria pela falta de perspectiva de vida. Invernou-se na bebida na esperança de disfarçar a vergonha que passava diante da esposa. Agora, adoentado pelo alcoolismo inveterado, não lhes restam mais esperanças. Será preciso ficar ali, deitado no chão, de boca aberta, esperando a morte chegar.

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O saudoso Manuel Nardi (Manuelzão), personagem de Guimarães Rosa nos seus livros Grande Sertão: Veredas e Manhuelzão e Migulim, com Dário Cotrim, em Montes Claros, durante a Festa do Pequi.

13 - AS CIDADES E SUAS MEMÓRIAS

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

As cidades se identificam com a sua história e cada uma dessas histórias é merecedora de especial apreciação por parte de sua população. Há livros que contam causos curiosos do tempo pretérito, enquanto que, outros narram fatos fantasiosos e lúdicos sem muita convicção do princípio certo. Aliás, alguns desses fatos, inerentes a formação política e administrativa de cada município, são de alta relevância para o seu conhecimento histórico, embora se narre muito pouco a respeito do que se quer saber. E como são felizes as cidades que possuem um filho que a ama e admira o seu passado, conseguindo perpetuá-lo na história. Desde já cumpre dizer que uma cidade sem memória é uma cidade sem história.

Para ter-se melhor idéia do que significa a importância das monografias passaremos a registrar algumas das quais se referem às cidades deste sertão bruto da Bahia. Em Palmas de Monte Alto, por exemplo, o doutor Waldemar Teixeira de Moura alinhavou os fatos históricos de sua cidade. Assim o fez também o acadêmico Honorato Ribeiro dos Santos, que escreveu vários livros sobre a emocionante história da cidade de João Duque (História de Carinhanha). Em tempos posteriores, o jornalista João Gumes registrou alguns fatos sobre Caetité a encantadora cidade do educador Anísio Spínola Teixeira. È interessante notar que a história completa desta querida comunidade foi escrita pela ilustre professora Helena Lima Santos, no livro Caetité, pequenina e ilustre.

Não se trata aqui, certamente, de um acaso quando o doutor Mário de Paula escreveu as suas memórias no livro O Médico dos Sertões da Bahia, crônicas que falam sobre a sua passagem pela antiga vila de Duas Barras, hoje a cidade de Urandi. Por outro lado, o mesmo fez o doutor Flávio Neves com o seu Rescaldo de Saudades quando escreveu ali as suas memórias do tempo ginasial. Observa-se, entretanto, que os livros sobre Caetité são os mais ricos em informações, haja vista a sua condição de cidade pioneira nesta região da Serra Geral. Por isso, já no século dezenove, o engenheiro Teodoro Fernandes Sampaio escrevia páginas sobre a Vila Nova do Príncipe e Santana de Caetité.

È mais do que provável que a sorte rondava o sertão, e em virtude disso surgiu das entranhas da vetusta Condeúba o erudito historiador doutor Tranquilino Leovigildo Torres que fundou o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia. Ainda escreveu Torres As Memórias Descritivas de Condeúba, além de outras monografias. Também deste sertão para o recôncavo baiano, o professor Erivaldo Fagundes Neves, autor da excelente obra Da Sesmaria ao Minifúndio. Sobre as cidades de Mozart David (Jacaracy) e do poeta Patrício Guerra (Mortugaba) escreveu suas monografias a acadêmica Zoraide Guerra David. O padre Turíbio Vilanova Segura produziu o livro Bom Jesus da Lapa – Resenha Histórica.

Continuando o trabalho de meu avô, Domingos Antônio Teixeira (Respingos Históricos), publicamos três trabalhos sobre a cidade do influente coronel Pedro Francisco de Moraes (Guanambi): Guanambi, aspectos históricos e genealógicos; O Distrito de Paz do Gentio e a história sucinta de sua decadência e Breves Notas Sobre a Origem do Município de Guanambi. Estamos preparando, já há algum tempo, os Estudos Toponímicos da Vila de Beija-flor – Município de Guanambi. Neste ensaio desenvolvemos pesquisas sobre a evolução política, administrativa e judiciária da cidade. Ora, é certo que não faltava, jamais, quem se prontificasse a discernir nessas formas inéditas as escritas de algum modelo remoto e quase relegado ao da memória. Porque o livro sobre as memórias das cidades é considerado a sua Certidão de Nascimento, assim como acontece com a Carta de Pero Vaz de Caminha que agora representa para o Brasil a certidão do seu nascimento.

FATOS & FOTOS

Júlia e Dário Cotrim, o poeta Adão Ventura e Wagner Torres durante o 7º Encontro de Escritores em Cambuquira - Minas Gerais, em julho de 2004.

12 - ANDRÉ & MAZINHO RASGANDO O FOLE

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

É muito gratificante saber que os amigos André & Mazinho estão com um novo trabalho. Um belíssimo álbum com vinte e cinco músicas homenageando o forró brasileiro com o título “Rasgando o Fole”. André & Mazinho já tem uma carreira de sucesso. De absoluto sucesso! É a força do ritmo nordestino que mobiliza multidões. É uma força indiscutível. É como se fosse um arrastão que põe o forró no gosto do povo fazendo com que os brasileiros movimentem-se nos variados ritmos das melodias. A dupla André & Mazinho, inteligentemente, apossou-se do embalo forrozeiro e com isso vem conquistando um público fiel a cada lançamento que faz.

“Rasgando o Fole” é um trabalho musical que representa o autentico forró brasileiro. Ele tem a direção do compositor Jussiê do Acordeom e a produção de André & Mazinho que, com muito talento e muito rigor na seleção musical, disciplinou o que produziu até então, apresentando para os seus fãs um compact disc digital áudio de qualidade inquestionável. Inclusos neste CD estão algumas das melhores melodias de Luiz Gonzaga, o maior forrozeiro do Brasil e outras, ainda, que estão imortalizadas nas vozes dos cantores: Dominguinhos, Luiz Ramalho, Edgar Mão Branca, Jackson do Pandeiro e de tantos outros seus amigos. Aqui, também, são explorados os belíssimos momentos das porfias nordestinas que são: o coco, o baião e o xote e tudo mais que se multiplicam numa grande variedade do estilo forrozeiro e no bom humor das canções para a apreciação de todos nós.

O forró é uma diversão constante. Sem abusar da prolixidade podemos dizer: sempre constante e sempre. Portanto, “Rasgando o Fole” tem essa incumbência com as suas vinte e cinco belíssimas gravações, pois todas elas são de uma riqueza musical à margem de qualquer influência erudita ou técnica. Um forró autêntico. Numa colocação feliz da jornalista Tânia M. M. Carvalho, disse-nos ela com muita propriedade que “se estivéssemos no interior de São Paulo, nada disso causaria surpresa, principalmente se estivéssemos falando de uma dupla sertaneja. Mas acredite se quiser: não se trata de uma dupla sertaneja, mas sim da primeira dupla de Forró do Brasil, André & Mazinho”. Aliás, essa mesma afirmação nós já havíamos encontrada no Caderno B do jornal “O Estado de Minas”, quando naquela oportunidade fizemos o recorte da matéria e o enviamos para os dois artistas da terra.

Numa outra oportunidade, confirmando assim o brilhantismo do sucesso de André & Mazinho, foi quando a Rede Globo de Televisão exibiu no início deste ano, no quadro Garagem do Faustão, parte integrante do programa O Domingão do Faustão, momentos especiais com a dupla. Agora, com o lançamento do álbum “Rasgando o Fole”, acreditamos que há um leque aberto para as investidas dos meninos. Pois eles são simpáticos, competentes e acima de tudo bastantes habilidosos no selecionar os seus repertórios e no cantarolar com as suas vezes. André & Mazinho, com justiça, é um orgulho para a nossa querida cidade de Guanambi e de toda a Região.

Todas as melodias que completam o álbum de André & Mazinho, nas suas vinte e cinco faixas, são melodias especiais. Isso é bem verdade. Mas, a faixa três, Xote das Meninas, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, lembra-nos, com muitas saudades, do forrozeiro montes-clarense Geraldo Rodrigues Antunes (Zé do Campo), pois, onde ele estivesse com a sua sanfona, ao nos avistar, tocava essa bela melodia do Rei do Baião. Obrigado André & Mazinho, por essa oportunidade de poder ouvi-los e, também, de escrever um pouco mais sobre os entretenimentos musicais que vocês promovem com absoluto sucesso. Obrigado mesmo!

FATOS & FOTOS

Marta Verônica (Unimontes), Dimas Lúcio Fulgêncio (Revista Nossa História - Pirapora), Dário Cotrim e Aurea Fagundes (Secretaria do Meio Ambiente) durante o percurso "Caminhos dos Gerais" no ano de 2008.

11 - A FAMÍLIA COTRIM

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

A origem dos Cotrins no Brasil aponta para Portugal. Os Cotrins da Europa são, até hoje uma grande família e a sua história de lá pra cá remonta ao século XIV (Martim Cotrim, nobre português que é citado nos velhos alfarrábios portugueses no ano de 1383). Antes, disso, há notícias de ser esta família originária da Inglaterra tendo passado para Portugal no século XV, nas pessoas de dois irmãos, Jaime Coterel Cotrim e Heitor Coterel Cotrim. Foram ambos fidalgos da Casa do Rei D. Afonso V, tendo o primeiro exercido o cargo de monteiro-mor do Infante D.Henrique, Duque de Viseu, e o segundo que foi pajem-de-lança daquele monarca.

Em Portugal, no município de Ferreira do Zêzere, da freguesia de Dornes, está localizado no Souto do Ereira o mais antigo solar da família dos Cotrins. Ali morou o Fidalgo Lopo Martim Canas Cotrim, de quem descendem provavelmente 90% dos Cotrins que hoje existem em todo mundo, com especial incidência nos países de língua portuguesa. Dos Cotrins de Ferreira do Zêzere saíram alguns para o Brasil, por exemplo: Filipe de Matos Cotrim, sargento-mór que subiu o rio Amazonas por volta de 1637. Entretanto, nada consta que Felipe teria ficado no Brasil e que por aqui constituísse uma família. Acredita-se que ele veio a serviço e que logo depois teria voltado a sua terra de origem.

Nota-se que os Cotrins que vieram para o Brasil são, na sua quase totalidade, descendentes de duas linhas assim mapeadas: da Bahia (Isaias Manoel Cotrim, Dário Teixeira Cotrim) e do Rio de Janeiro (Márcio Cotrim, René Cotrim).

A primeira linha do mapeamento vem da Bahia
e refere-se aos Cotrins vindos de Portugal no início do século XVIII que se instalaram no alto sertão baiano (Caetité, Guanambi, Rio das Contas, Livramento, Brumado, Caculé, etc.). Foi a que aparentemente mais se proliferou. Da Chapada Diamantina deslocaram-se para São Paulo (Pitangueiras, Batatais, São José do Rio Preto, etc.). Há registros na Carta – que eu tenho uma cópia em meu arquivo particular – de Benedito Egas José de Carvalho Cotrim, datada de 2 de dezembro de 1752, que o primeiro “Cotrim” que chegou aqui no sertão baiano foi o seu irmão Antônio Xavier de Carvalho Cotrim, de quem somos os seus descendentes. Em companhia de Antônio veio o seu irmão Bernardo Diogo José de Carvalho Cotrim que ficou na cidade de Caetité. Os dois uniram-se aos Teixeira, Brito e Gondim e foram os maiores proprietários de terras na região da Chapada Diamantina e na bacia do alto rio das Rãs.

A segunda, mais nobre em teres e haveres possivelmente, refere-se aos Cotrins vindos também de Portugal, mas em época posterior e que, a princípio, se instalaram na cidade do Rio de Janeiro
com grande incidência na região de Itatiaia, onde se uniram à família do Visconde de Itaboraí. Desta ramificação temos o vereador Cotrim Neto e escritor Márcio Cotrim (Márcio hoje reside em Brasília-DF). Márcio é sobrinho de Álvarus Cotrim, saudoso cronista carioca que foi um grande colaborador da Revista Ele & Ela. Cotrim Neto, por sua vez, mereceu uma belíssima crônica do montes-clarense Teófilo Pires publicada no seu livro “O Nome do Dia – Comentários Radiofônicos”, datado de 1955.

Existem outras linhas desta família ainda em fase de estudos. Destas, a mais evidente é a dos Gurjão (ou Grojão) Cotrim, um dos fundadores de Moji-Mirim,
cidade do interior paulista e outra é dos Cotrim do Maranhão. Era comum aos baianos buscarem o interior paulista para iniciar ali uma vida nova. Com a nossa família não foi diferente. Buscamos novos eldorados e os encontramos aqui mesmo em terras mineiras. Por isso, somos apelidados de baiano-cansados. Para esta acolhedora cidade dos montes claros o primeiro Cotrim que aqui chegou foi o senhor Isaias Manoel Cotrim com a sua numerosa prole, no ano de 1962. Hoje a sua descendência está composta de seus filhos, sobrinhos, primos, netos e bisnetos.

FATOS & FOTOS

João Martins (Guanambi), Júlia e Dário Cotrim e o colunista João Jorge. Dário Cotrim recebeu nesta oportunidade o Prêmio Projeção do Colunista João Jorge e do Jornal de Notícias.

10 - CIDADÃO BOCAIUVENSE

Dário Cotrim recebendo o título de Cidadão Honorário da cidade de Bocaiúva pela mãos do Vereador Ronildo Ribeiro Andrade.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

O reconhecimento do nosso trabalho realizado em favor da comunidade em que vivemos n’algum espaço de tempo, é sem dúvida alguma, o maior tributo que o nosso coração e a nossa alma podem um dia receber. E, foi assim que aconteceu conosco. No apagar das luzes do mês de maio, estávamos reunidos na Câmara Municipal de Bocaiúva, em sessão solene, para recebermos com galhardia e muita pomposidade o belíssimo diploma de Sócio Honorário daquela encantadora cidade.

A iniciativa deste grandioso e inesquecível evento cívico foi da nossa ilustre companheira Vânia Maria Assis Carneiro que, por motivos alheios à sua vontade não esteve presente naquela brilhante noite, mas a generosidade de sua bondosa alma foi sentida por todos os presentes. Já o projeto de Lei Municipal de nº. 3.295/2008, de 30 de maio de 2008, teve assinatura do competentíssimo vereador Ronildo Ribeiro Andrade, velho amigo e companheiro de primeira hora do antigo Rotary Club de Bocaiúva. A essas duas pessoas queremos registrar aqui a nossa eterna gratidão e também a certeza plena da nossa responsabilidade, em dose dupla, de sermos filho adotivo dessa querida terra do Senhor do Bonfim.

Enquanto os oradores cumprimentavam os homenageados, por um momento o meu pensamento escapava de uma fresta luminosa para depois estacionar em tempos pretéritos. Lembrava-me, todavia, com imensa saudade dos optimates da nossa política: os companheiros Ataíde Carlos Vieira, Romeu Barcelos Costa e Wandaick Dumont, todos integrantes do executivo e do legislativo dessa majestosa terra de José Maria de Alkmim. Por outro lado, daqueles que juntos participávamos das inúmeras atividades sociais, prestando relevantes serviços ao povo carente da cidade e dos seus distritos. Não é por acaso que a cidade de Bocaiúva é o berço natalino do sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho.

Meus amigos bocaiuvenses, por tudo isso posso lhes dizer que hoje eu estou feliz, honrado e agradecido. Feliz porque a felicidade é “momento” e naquele exato momento ninguém no mundo poderia estar mais feliz do que eu. Honrado? Sim, honradíssimo! Porque quando se recebe uma distinção honorífica de valiosa significação como esta, ela somente nos enaltece perante os olhos da sociedade, valorizando-nos sobremaneira por tudo aquilo que fizemos. Agradecido... Muito agradecido mesmo, pois estamos, deveras, radiantes de felicidades da forma pela qual fomos recebidos pelos amigos e companheiros rotários. Ora, o primeiro impacto aconteceu no momento da nossa chegada, quando deparamos com a seguinte faixa-de-rua: “Companheiro Dário, sentimo-nos orgulhosos e envaidecidos em recebê-lo como cidadão bocaiuvense!” Entretanto, é preciso dizer-lhes o mesmo.

Já o outro impacto me ocorreu no instante em que o ilustre vereador Ronildo Ribeiro Andrade falava da minha pessoa. Lembrava-me ele das ocasiões de trabalho, de lazer e de companheirismo. Mais uma vez as lembranças fluíram-se de dentro para fora como raios silenciosos. A companheira Vânia Carneiro jamais poderá aquilatar o bem que ela nos proporcionou naquele momento de festa.

Outrossim, lembrei-me do jovem cantor José Leonardo Pinto quando citei um fragmento de sua composição musical para perorar a minha fala: “Bocaiúva, cidade ternura/ do norte de Minas Gerais/ seus campos são verdes/ e seu céu mais azul/ brilha nele o Cruzeiro do Sul. Minha terra tem, sim/ um lugar e um cantinho pra mim!/ Bocaiúva tem, sim/ uma história: o Senhor do Bonfim!”. Tenho dito!

FATOS & FOTOS

Os escritores: Itamaury Teles, Dário Cotrim, Raphael Reys, Afonso Prates Borba e José Ronaldo de Almeida durante palestra do acadêmico Afonso Romano de Sant'Anna, na Sala geraldo Freire, em Montes Claros, no dia 29 de abril de 2997.

9 - BAIANO BURRO NASCE MORTO

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Não tem nenhuma razão o professor universitário, doutor Antônio Natalino Manta Dantas dizer, para os quatro ventos, que o baiano é burro e que ele só sabe tocar berimbau. Como se vê, o berimbau é um instrumento de uma corda só, se duas ou mais tivesse talvez o baiano não soubesse como manuseá-lo (confessa o professor). Aliás, burros são todos aqueles eleitores que votam em políticos desqualificadas como o professor Natalino, que é uma dessas pessoas que aceita passivamente as indecências dos mensalões, os absurdos dos dólares na cueca e as investidas do seu amigo Ali Babá com todos os seus quarenta ladrões. O epíteto de burro deve ser para todos os brasileiros que desejam acreditar que não existe corrupção do governo de Luis Inácio Lula da Silva. Neste caso tem razão o professor Natalino.

Todavia, até concordamos que hoje os brasileiros são menos inteligentes do que ontem. Ora, se as escolas públicas não prima mais pelo futuro de seus alunos, certamente que a formação deles será inferior aos dos alunos de épocas passadas. A violência muita vezes contribui para a evasão de alunos das escolas e ainda estimula a desistência de muitos de seus professores. Por outro lado, a falta de investimentos em segurança e equipamentos novos para as escolas vem contribuindo sistematicamente para o caos escolar. Enquanto isso, os traficantes de drogas das portas das escolas já comercializam de dentro das salas de aula.

Mas, é preciso o professor saber que existem baianos que gostam da Bahia. A propósito disso, lembramos do saudoso Waldeck Artur de Macedo, que ganhou o apelido de “Gordurinha”, no ano de 1938, quando compôs a seguinte canção:
“O pau que nasce torto/ Não tem jeito morre torto/ Baiano burro garanto que nasce morto/ Sou da Bahia comigo não tem horário/ Não sou otário e você pode zombar/ Sou cabra macho, sou baiano toda hora/ Meio dia, duas horas, quatro e meia o que é que há/ Cabeça grande é sinal de inteligência/ Eu agradeço a providência de ter nascido lá”.

Certamente que todos nós não temos a inteligência magistral do imortal Ruy Barbosa, pois este foi um gênio incontestável e por isso mesmo é que o seu nome, se situa, hoje, entre os dos brasileiros mais ilustres de todos os tempos. Entretanto, temos a consciência de sermos um povo sério, apesar da nossa contagiante alegria; de sermos honestos, apesar de alguns conterrâneos nossos serem petistas; de sermos inteligentes, se bem que a nossa cultura já ilustra com justiça essa inusitada questão. As declarações do professor Natalino devem estar incomodando amargamente o casal Jorge Amado e Zélia Gatai, os poetas Gregório de Matos e Castro Alves, os historiadores Frei Vicente do Salvador, Miguel Calmon e Teodoro Sampaio, a angelitude de Joana Angélica, a bravura de Maria Quitéria e o patriotismo de Ana Néri; o educador Anísio Teixeira e até mesmo o político-coronel Antônio Carlos Magalhães.

Poderíamos citar ainda centenas de outros nomes de baianos ilustres. Não! Não será preciso. O professor Natalino há de convir que foi infeliz, irresponsável e incompetente nas suas colocações sobre a inteligência fulgurante dos baianos. Tenho dito!

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim recebendo o Diploma da Academia de Letras de Várzea da Palma.

8 - PARA OS NOSSOS NETOS

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

A tarde da velhice é a aurora da outra vida!
Augusto de Lima – O Inquisidor

Já faço meio século e mais alguns anos de vida. A vida para mim continua como sempre: misteriosa e, por outro lado, caminhante. Assim, misteriosa como o mar que está sempre em movimento no seu caminhar. São nesses momentos de mistérios que percebemos que a nossa mocidade foi deixada para trás e que não tem mais volta. Enquanto isso, a velhice chega de mansinho apoderando-se de nossos corpos e de nossas mentes. O que era antes os ‘embalos nas noites de sábados’, agora se torna menos agitado. Mas, muito mais calorosas são as noites gélidas dos segredos mútuos.

Podemos dizer que, quando o vulcão do nosso corpo começa a acomodar-se é o momento da alma gozar de felicidades e a mente espairecer nas saudades do tempo. A sabedoria popular já dizia que não temos o direito de consumir a felicidade sem ao menos produzi-la. É por isso que a velhice tem lá as suas ledices e a compensação mais excitante de que a vida possa nos oferecer um dia: a de sermos felizes avós!

Ser avô é, pois, uma imensa compensação da nossa nostálgica velhice. Pois é nela que temos a noção exata da responsabilidade de sermos os pais-avós. É na velhice que podemos experimentar a medida exata de amor que dedicamos aos nossos netos. É também na ancianidade que ocorre em nós a saudade dos filhos nos momentos dos aconchegos maternos quando ainda pequeninos. Muitas vezes, esses momentos foram esquecidos no calor da mocidade. Outrossim, no silêncio das noites as cantigas de ninar eram sussurradas para acalmá-los de uma orvalhada de prantos. Bem feliz quem pode um dia embalar nos braços o corpo ensonado de uma criança alfenim. Bem feliz quem pode em noites distantes rezar uma prece à virgem santíssima.

As sensações dos momentos de sermos avós são sempre aquelas dos pais de primeira viagem. Os netos renovam o que há de mais sagrado no coração dos pais de seus pais. Perfumam as nossas vidas com o doce aroma que exala das flores contidas no luzeiro da esperança. As lembranças dos nossos filhos, agora já adultos e cheios de problemas com o trabalho, com as prestações e com os impostos a pagar, são para nós, seus pais, o orgulho do dever cumprido.

Disse certa vez a escritora Raquel de Queiroz com muita propriedade: “Sim, tenho a certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis”. Sem dúvida que os netos são os amores novos de nossas velhas vidas.

FATOS & FOTOS

Dário Cotrim passando às mãos do vice-presidente da República José Alencar documento para a criação do Museu do Nordestino, em Montes Claros. Na foto: Cori Ribeiro (Presidente da Câmara Municipal) e doutor Athos Avelino (prefeito Municipal de Montes Claros).

7 - MEU TIO-AVÔ LINDOLPHO

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

O que outrora foi um sonho é hoje uma grande decepção de vida.

O meu tio-avô Lindolpho Antônio Teixeira, rábula em leis jurídicas, sempre foi o homem no qual eu me espelhei com orgulho e com muita admiração. A sua principal paixão era mesmo a advocacia. Com efeito, eu queria ser igual a ele: um homem respeitado, venerado e sempre solicitado para dirimir as dúvidas civis e resolver os embates penais de longas datas: eu queria ser um advogado. O meu tio-avô era uma pessoa de certa afabilidade, que mostrava o seu vício de boa-educação e o seu caráter austero, sem zanga, mas também sem a letícia do cotidiano. Ele tinha uma voz rouca e o rosto avermelhado, que trazia a barba por fazer numa expressão que lhe parecia nímio instruído. Costumava pitar cigarro de fumo de rolo em palha de milho. Fumava e falava pausadamente e quando acontecia sorrir nos mostrava os dentes amarelecidos pela nicotina que deles expelia em meio ao catarro de que tanto lhe incomodava. O mundo para ele estava prestes a acabar. O meu tio-avô era assim porque estava continuamente com muita pressa. No mesmo instante que chegava já estava de saída. Nunca esquentava assento. Era uma inquietude constante que lhe marcava como uma característica principal do seu dia-a-dia.

O tempo corria com uma rapidez máxima enquanto isso eu me tornava um menino-moço. Um menino-moço que nutria o sonho de ser um advogado igual ao meu tio-avô Lindolpho.

Eu bem me lembro ainda que durante as sessões de júri, a expectativa nossa de vê-lo na sua loqüela sólida e brilhante, de ilustre defensor público, era o que mais nos causava orgulho e ao mesmo tempo uma doce e eterna admiração. Trajando o seu surrado paletó de brim, que era vestido por sobre uma casimira encardida nas estradas poeirentas de Urandi, ele ainda trazia a mesma gravata preta e o seu antigo chapéu de massa. Os livros, estes nunca lhe faltaram. Por aonde quer que andasse, eles estariam em sua companhia. Com os livros jurídicos teve um perfeito casamento, já que eram os seus conselheiros inseparáveis. Os seus melhores companheiros. Pois bem, poderíamos dizer que eram os seus companheiros das horas certas e das horas incertas também. Aliás, principalmente os das horas incertas.

O meu tio-avô era maçom! Que coisa mais significativa para mim. O meu tio-avô ser um irmão-maçom. E foi muito mais além, ele foi o fundador da maçonaria da cidade de Caetité. Não há dúvida de que o meu tio-avô era um homem perfeito, um homem de bem que vivia consciente de suas responsabilidades e obrigações jurídicas. Vivia intensamente nos labores dos fóruns que freqüentavam e, por outro lado, nutria pelos seus pares uma admiração inquestionável.

Sonho realizado. Hoje eu sou advogado igual ao meu tio-avô. Mas, logo em seguida veio a grande decepção. Com os recentes escândalos de corrupção no Poder Judiciário o meu mundo desabou. Não há mais aqueles competentes rábulas nas sessões de júri e nem no vai-e-vem forense. Hoje somente os bacharéis em Direito, os que são diplomados ao toque do tambor, em virtude da competitividade das Faculdades de Direito em oferecer cada vez mais “advogados” no mercado de trabalho. A proliferação desses profissionais somente contribui para a desmoralização da classe. Infelizmente há hoje no mundo jurídico alguns advogados que são traficantes de drogas e de armas, que são arrombadores de bancos e ainda há aqueles que controlam o crime organizado de dentro das penitenciárias. Infelizmente o número de maus advogados já suplanta a quantidade de bons profissionais. O meu saudoso professor de Direito Penal, o doutor Georgino Jorge de Souza, constantemente nos dizia que “a pedra do anel de advogado é vermelha porque ela tem vergonha de muitos daqueles que a usam”. Recorrendo à memória, eu nunca notei que o meu tio-avô usasse algum tipo de anel. Bem, era melhor que fosse assim!

Finalmente recorro à proposta redigida por Capistrano de Abreu (1853-1927), de que a Constituição Brasileira deveria conter um único artigo: “Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara” o que valeria também para o presidente da República, o torneiro mecânico Luiz Inácio Lula da Silva!

sábado, 1 de agosto de 2009

6 - ALÉM DO REVOLTO MAR

DÁRIO TEIXEIRA COTRIM



Sem nenhum exagero, este novo livro de Benedito Teixeira Gomes vem agora, reforçar ainda mais a originalidade de sua criação e o talento que possui para a elaboração de seus poemas. Comentando-o, em matéria anterior, reafirmamos a sua tendência da escola imitativa de Castro Alves. Já nas primeiras páginas encontramos poemas que marcam a volta do romantismo real na sua temática e no seu estilo. Preocupa-se o poeta em buscar a beleza do classicismo. Esta busca que é um grande problema para os poetas contemporâneos, uma vez que a maioria deles adota temas com liberdade de criação e textos extremamente extravagantes.

Não há apego para com as regras gramaticais, o que não acontece aqui em Mar Revolto. Não há, tão pouco, a menor preocupação para com a censura literária, o que também não acontece em Mar Revolto. O autor sabe que a sua poesia é moderna e liberada dos quadros lógicos, formulados pelos pensamentos dos mais afoitos. Que seus versos podem alongar-se numa retidão indefinida de surrealismo e com as suas diferentes características.

Os poemas de Benedito são feitos do que ele é: um homem temente a Deus e essencialmente humano e social. Destacamos, entretanto, o poema “Legenda” que é um oferecimento póstumo àquele que durante toda a sua vida dedicou às causas de nossa arte literária: Elcio Cardoso Guimarães.

“Foi-se o homem mortal/ a legenda genial, imperecível/ do poeta arrojado, hipersensível/ do exímio orador e romancista...”.

Noutras palavras podemos afirmar que Benedito é um escritor na plenitude de sua criação. Talvez lhe falte tempo para que possa ficar imerso nas escritas e nos livros por horas infinitas. Isto para que possa criar os sonetos mais brilhantes e mais admiráveis entre todos os que já foram compostos por ele.

Pois, a forma, a que ele escreve com toda a alma, está no soneto. Certamente é o poeta Benedito o mais completo sonetista de Guanambi. Talvez seja ele o único a fazer escola clássica em nossa região. Compor sonetos pode não ser um momento prazeroso, mas certamente o é na sua conclusão. O soneto é a alma da poesia. O soneto é o coração da poesia. O soneto é poesia viva. Em “Sedução” nós percebemos a figura indelével do romantismo de Casimiro de Abreu, como também a melancolia do consagrado artesão das letras, o poeta Álvares de Azevedo.

“És linda, sensual... nos seios brancos/ dois pequenos botões de rosa prendem/ ao vê-los meus olhinhos se ascendem/ pulsa meu coração aos solavancos...”.

A diferença, fundamental, entre os livros Pétalas e Mar Revolto, fica por conta da maturidade do poeta. Hoje ele está muito mais seguro de suas criações artísticas do que antes. É que Pétalas surgiu desde o ardor dos seus verdes anos e, em Mar Revolto o imaginativo seguro de quem conhece o caminho das letras. Benedito é considerado o maior vulto da atual geração romântica de poetas de Guanambi. Disso eu não tenho dúvidas!

FATOS & FOTOS


Dário Cotrim recebendo o Diploma "Construtores da Cultura" da Academia Montesclarense de Letras, das mãos da presidente Yvonne de Oliveira Silveira.

5 - DO OUTRO LADO DA SERRA


DÁRIO TEIXEIRA COTRIM

Brincar de escrever reminiscências é querer chorar. Chora quem as escreve e também quem as lê. O livro O Outro Lado da Serra, do jornalista João Martins, outro não podia ser e não é, retrata muito bem que recordar é viver. É, portanto, o seu livro O Outro Lado da Serra uma produção literária de quem conhece as técnicas da escrita e as suas diferentes vias de comunicação. A leitura aqui se impôs pela arte e pelas artes desencadeiam as lembranças que não se apagam nunca de nossa imaginação. Portanto, as lembranças fazem amolecer corações e chorar será preciso. Trazer essas lembranças para o presente é um raro momento que a gente tem de se perder na imensidão do espaço e sentir-se criança mais uma vez. E ser criança outra vez é reviver as festas juninas e a todas as manifestações religiosas. Ser criança é brincar de finca, de pião e soltar pipas. Ser criança é participar das brincadeiras de roda: ciranda, cabra-cega, chicotinho queimado e atirei o pau no gato. Ser criança é ser feliz!

Nas páginas de O Outro Lado da Serra, de tempos a tempos encontrávamos envolvidos nas lembranças dos nossos entes queridos, assim como fez o jornalista João Martins ao citar dezenas e mais dezenas de nomes de parentes e amigos durante as narrativas de suas reminiscências. Ah, eu também tive as minhas Zitas e nós éramos felizes.

Porém o essencial é viajar nas imaginações do autor e retroceder ao tempo desde quando ainda éramos crianças. Isso é o que fez o jornalista e acadêmico João Martins neste seu livro que tive o prazer de ler, em primeira mão. É uma viagem de volta às nossas origens que deve ser realizada em câmara lenta para que possamos deliciar de todos os doces momentos de nossa existência.

O trabalho do escritor é transformar a linguagem árida em linguagem amena. Dessa forma ele expressa nos rituais da seca, quando a sua preocupação é tão somente recuperar a natureza da destruição dos ingênuos e desavisados lavradores. A devastação da natureza vem refletir-se diretamente sobre as nossas lembranças, motivando-nos profundas tristezas.

A fartura de suas lembranças, a originalidade de suas narrativas e os detalhes de sua escrita clássica e provinciana, dão a esse livro O Outro Lado da Serra, um momento impar para que a gente se recorde do que ficou no esquecimento de até então. Os diálogos, no linguajar matuto, entre os compadres Tervino e Horaço fora o bastante para que a gente rememore as visitas chegando em nossa casa nos dias de feira.

Entretanto, na ânsia de perscrutar o passado ressalte-se, a bem da verdade, que o jornalista e acadêmico João Martins formou a sua personalidade nas terras de Nossa Senhora das Dores, ali onde viveu o Seu Constanço, Seu Tervino, Seu Horaço...

E, quem nunca conheceu um Seu Constanço? Aqui, o jornalista João Martins o retrata com bastantes minudências a sua trajetória de trabalho e sofrimento. O Seu Constanço, homem simples da roça, é uma figura constante nos sertões dos mocambos baianos.

Agora, as lembranças de João Martins vêm encalhar nas lembranças de todos nós. Aventurar terras estranhas com renovadas esperanças de uma vida melhor ou então, conquistar espaços por vôos rasantes, assim como faz a águia. Triunfar sempre será o desejo de todos os nordestinos. As sombras da adolescência serão nada mais do que um incentivo para aqueles que querem um dia granjear o espaço da águia.

Uma outra faceta do jornalista e acadêmico João Martins, que muito nos impressiona, é a sua facilidade de compor poemas. São poemas belos e sensíveis, revelando-se o estro poético do vate sertanejo numa linguagem bem rítmica. Poder-se-ia, em desabafo do título, dizer que essas belas composições poéticas nasceram em decorrência do livro O Outro Lado da Serra, para homenagear pessoas e fatos.