sábado, 22 de agosto de 2009

LEOCÁDIA: O FILME


Dário Teixeira Cotrim

A película Leocádia: o filme, com roteiro e direção do ilustre acadêmico Benedito Teixeira Gomes e o aval da Prefeitura Municipal de Guanambi (através das Secretarias de Educação e da Cultura), traz para a sociedade guanambiense uma nova versão daquilo que nós aprendemos na escola pública municipal e/ou nas rodas de conversas com as pessoas mais velhas sobre a vida pregressa da jovem rapariga Leocádia. Tem o filme uma imagem perfeita, com luzes e cores. O som dos diálogos é de excelente qualidade, destacando-se a trilha sonora de Alessandro Ramos que realmente encanta a todos nós os seus distintos espectadores. Os atores do elenco, mesmo sendo tratados carinhosamente de “artistas-amadores”, eles desempenharam com extrema competência e muita dedicação a espinhosa missão de representar. O filme é baseado em fatos reais.

Entretanto, faltou no enredo do filme um pouco mais de pesquisa. Primeiro sobre o tempo (1889-1908) e espaço onde detectamos algumas incorreções. A propósito disso, estamos transcrevendo para cá algumas considerações sobre a existência de Belarmina e Florinda. Vejamos: A lendária Belarmina teria nascido na Bahia entre 1813 e 1815 e falecida entre 1875 e 1877, se levarmos em conta a afirmação de Domingos Antônio Teixeira de que “foi assim que, já ao terminar o terceiro quartel do século XIX, existia o arraial de Beija Flor”. Pois bem, a data seria a terceira parte de cem anos, ou seja, de 1815 a 1875. Continua, ainda, o velho Teixeirinha dizendo que “quando em 1880 foi criado o distrito de Paz ou distrito policial, o arraial recebeu a denominação de Bela-Flor, mãe e filha foram suas fundadoras”. Cremos, portanto, na veneração póstuma de uma delas ou das duas, mas provavelmente de Belarmina, a mãe. Analisando os fatos, não poderia à época de Leocádia, de 1905 a 1908, dona Maria das Neves ser a mãe de Florinda (ou Fulô). Disse Elísio Cardoso Guimarães em seu livro “Leocádia” que “Dona Maria das Neves, vulgarmente conhecida por Maria das Oveias (...) era uma das festeiras de Santo Antônio, a quem fazia devoção para que suas filhas, Fulô e Santinha se casassem”. Ora, poderia até Florinda (Fulô) – com setenta e seis anos de idade, no ano de 1908 – ter ido morar na casa de Maria das Oveias, juntamente com a jovem Santinha, mas não há, contudo, nos anais de Guanambi, fatos ou dados que comprovam a existência de Maria das Oveias e nem mesmo notícias de que Florinda tivera algum dia, uma única irmã. Resumindo: Fulô não caberia no filme, ou então fosse ela uma companheira de Santinha, filha de Belarmina e nunca a filha de Maria das Oveias.

O segundo questionamento que formulamos se refere a religiosidade da época. Pelo tema impactante e sempre polêmico, entendemos que o diretor Benedito Teixeira Gomes, por ser evangélico fiel as suas convicções religiosas, não se importou em aprofundar os seus estudos sobre a influência da Igreja Católica. Nota-se que em nenhum momento aparece a imagem de uma Igreja como fundo nas cenas alusivas às rezas não obstante a existência da ladainha de São José e o vai-de-virá. Um fato inaceitável. Outro erro absurdo: Fulô beijava a imagem de Santo Antônio e não os homens da venda de Maria das Oveias. Por isso, entendemos ainda que a história foi deturpada pela produção, até porque não foram gravadas as rezas (Santo Antônio) e nem foram realizadas as quermesses, partes das festividades que sempre aconteciam no adro das velhas igrejas católicas. Mas, não devemos entender que as falhas contidas no roteiro deste filme servirão para sobrepor a beleza da caatinga do agreste sertão baiano onde o carro de bois e os outros apetrechos filmados representam com fidelidade os nossos costumes e as nossas tradições. Ainda assim, não se poderia exigir melhor qualidade na produção deste filme, senão a verdade dos fatos para que a história de nossa terra seja preservada em benefício das novas gerações.

Um comentário:

  1. Olá,parabéns pelas obras e pelas críticas. Gostaria que tivesse uma crítica com tal profundidade sobre nossa "história Homérica" entre os Castro Alves es os Canguçus. Gostaria de saber se você sabe se esta história já foi documentada em película. Se não, os nossos cineastas estão perdendo tempo. Também gostaria de saber como posso adquirir o livro O Idílio de Pórcia e Leolino.
    Marcus Vinícius Cangussu Cardoso

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